A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

SAUL DIAS

Biografia

 

1902-1983

 

Portugal Portugal

Saul Dias, irmão de José Régio, de seu nome verdadeiro - JÚLIO MARIA DOS REIS PEREIRA - nasceu em 1902 e faleceu em 1983.

Os seus desenhos e ilustrações eram assinados com o nome de Júlio.

Saúl Dias nasceu em 1902 e faleceu em 1983.

 

Saúl Dias é o pseudónimo literário do pintor Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão do poeta José Régio.

 

Licenciado em Engenharia Civil pela Universidade do Porto, foi pintor, poeta e desenhista. Colaborou na revista Presença com produções literárias, pinturas e desenhos.

 

 

Obra:

Poesia
Mais e Mais , 1932
Tanto, 1934
Ainda, 1938
Sangue, 1952
Obra Poética, 1932-1960, 1962
Essência, 1973
Obra Poética, 1980
 

 

Poesias Eternas

Álcool, Fumo e Café

Ali

A Flor e a Ave

Início

O Poema

Tarde Quieta

A Última Fala do Palhaço

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Álcool, Fumo e Café

 

 

Não mais o álcool,

não mais o fumo,

de azulado rumo, nem o café.

Resta-me a fé

num áureo aprumo.

Não me consumo.

Sei como é.

 

  

Os nervos cansam

e vão partir-se.

A voz de Circe

ouço-a ainda...

E, mais mais linda,

ainda me chama

e, embora lama,

quero-lhe ainda.

 

  

Mas quero quietos

os meus sentidos,

comprometidos

em ascensões.

As sensações

hei de chamá-las,

purificá-las

com comunhões.

 

  

Resto sedento,

desalentado...

Quem a meu lado

no funeral?

Negro portal

hei de quebrá-lo.

Cantar o galo

sobre o coval.

 

 

(As mãos daquela

que se dizia

tão minha amiga

já se sumiram

Vagas sorriram

outras derrotas

Ignotas rotas

as poluíram

 

  

E as tardes brancas

hei de esposá-las.

Não quero galas

na minha boda.

Bailem em roda

só as crianças

ingênuas danças

à sua moda.

 

  

Se um homem cumpre

o seu destino,

não vão sem tino

mexer na obra.

É como a cobra

que fere o seio

quem, de permeio,

altera a nota.

 

  

De qualquer forma

siga o meu rumo,

num áureo aprumo,

cheio de fé.

Sem o café,

sem o tabaco,

cortar o opaco

sei como é.

 

  

TANTO, PORTUGÁLIA EDITORA, LÍRICAS PORTUGUESAS, P. 138

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Tarde Quieta

 

Tarde quieta de Domingo,

quieta, quieta...

Jogo ao ar a bola preta

o menino.

 

Só a música

inquieta um pouco...

(o perpassar talvez do espírito louco

do Músico-Poeta...)

 

E, na varanda,

as rosas brancas

pendrem sobre a estrada.

 

- Quem acendeu as luzes

em pleno dia?

 

Tanto de quase nada!...

 

 

AINDA, PORTUGÁLIA EDITORA, LÍRICAS PORTUGUESAS, P. 140

topo

 

 

 

 

 

Ali

 

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali é a pedra do teu lar.

Ali é o teu, bem teu lugar.

Ali a pedra onde jogaste

o que o destino te quis dar.

 

Ali ficou tua pegada

impressa, firme, sobre o chão.

Ninguém a vê sob o montão

De cinza fria e poeirada?

Distingue-a, sim, teu coração.

 

Podem talvez o vento, a neve,

roubar a flor que tu criaste?

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali sentiste a vida breve.

Ali sorriste. Ali choraste.

 

 

SANGUE, PORTUGÁLIA EDITORA, LÍRICAS PORTUGUESAS, P. 143

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 Início

 

Sorris

E o mundo começou agora mesmo!

 

A tua mão

sinto-a pousar na minha...

 

Há vooes de andorinha...

Caem rosas a esmo...

 

OBRA POÉTICA

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A Flor e a Ave

 

A flor

e a ave!

 

Uma quieta,

a outra

esvoaçando em redor...

 

A flor é alacre,

de pétalas vermelhas!

E a ave

prende nas suas penas

irisadas centelhas...

 

Lembram dois namorados

que o amor

enleia em fina traça...

 

- Vede

como a ave esvoaça

em torno da flor!

 

OBRA POÉTICA

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O Poema

A tarde cai,

silenciosa,

morosa...

 

Na alma do poeta,

o poema,

estranha rosa,

rubra e preta,

abre...

 

Afinal,

escrever um poema

é fixar uma pena,

sentindo estoirar

o calabre

do coração,

nostálgico do éden...

 

- Vá, poeta,

deixa o coração sangrar!

 

Para que negar

a esmola que te pedem?

 

OBRA POÉTICA

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A Última Fala do Palhaço

 

- Deixem-me ser eu

um instante, ao menos...!

Ainda vale a pena!

Deixem-me vir à cena

em primeiro lugar,

a rir ou a chorar

(a mesma coisa afinal...)!

 

Deixem-me, antes que morra,

demolir a masmorra

que eu mesmo construí

com lágrimas e sangue

e, embora exangue,

ser só eu, tal e qual!

 

OBRA POÉTICA

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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