SAUL
DIAS
Biografia
1902-1983
Saul Dias, irmão de José
Régio, de seu nome verdadeiro - JÚLIO MARIA DOS REIS PEREIRA - nasceu em 1902
e faleceu em 1983. Os seus desenhos e ilustrações eram assinados com o nome de Júlio.
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Poesias Eternas
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Álcool,
Fumo e Café
Não
mais o álcool,
não
mais o fumo,
de
azulado rumo, nem o café.
Resta-me
a fé
num
áureo aprumo.
Não
me consumo.
Sei
como é.
Os
nervos cansam
e
vão partir-se.
A
voz de Circe
ouço-a
ainda...
E,
mais mais linda,
ainda
me chama
e,
embora lama,
quero-lhe
ainda.
Mas
quero quietos
os
meus sentidos,
comprometidos
em
ascensões.
As
sensações
hei
de chamá-las,
purificá-las
com
comunhões.
Resto
sedento,
desalentado...
Quem
a meu lado
no
funeral?
Negro
portal
hei
de quebrá-lo.
Cantar
o galo
sobre
o coval.
(As
mãos daquela
que
se dizia
tão
minha amiga
já
se sumiram
Vagas
sorriram
outras
derrotas
Ignotas
rotas
as
poluíram
E
as tardes brancas
hei
de esposá-las.
Não
quero galas
na
minha boda.
Bailem
em roda
só
as crianças
ingênuas
danças
à
sua moda.
Se
um homem cumpre
o
seu destino,
não
vão sem tino
mexer
na obra.
É
como a cobra
que
fere o seio
quem,
de permeio,
altera
a nota.
De
qualquer forma
siga
o meu rumo,
num
áureo aprumo,
cheio
de fé.
Sem
o café,
sem
o tabaco,
cortar
o opaco
sei
como é.
TANTO,
PORTUGÁLIA EDITORA, LÍRICAS
PORTUGUESAS, P. 138
Tarde
Quieta
Tarde
quieta de Domingo,
quieta,
quieta...
Jogo
ao ar a bola preta
o
menino.
Só
a música
inquieta
um pouco...
(o
perpassar talvez do espírito louco
do
Músico-Poeta...)
E,
na varanda,
as
rosas brancas
pendrem
sobre a estrada.
-
Quem acendeu as luzes
em
pleno dia?
Tanto
de quase nada!...
AINDA, PORTUGÁLIA EDITORA, LÍRICAS PORTUGUESAS, P. 140
Ali
Ali
sofreste. Ali amaste.
Ali
é a pedra do teu lar.
Ali
é o teu, bem teu lugar.
Ali
a pedra onde jogaste
o
que o destino te quis dar.
Ali
ficou tua pegada
impressa,
firme, sobre o chão.
Ninguém
a vê sob o montão
De
cinza fria e poeirada?
Distingue-a,
sim, teu coração.
Podem
talvez o vento, a neve,
roubar
a flor que tu criaste?
Ali
sofreste. Ali amaste.
Ali
sentiste a vida breve.
Ali
sorriste. Ali choraste.
SANGUE,
PORTUGÁLIA
EDITORA, LÍRICAS PORTUGUESAS, P. 143
Início
Sorris
E
o mundo começou agora mesmo!
A
tua mão
sinto-a
pousar na minha...
Há
vooes de andorinha...
Caem
rosas a esmo...
OBRA
POÉTICA
A Flor
e a Ave
A
flor
e
a ave!
Uma
quieta,
a
outra
esvoaçando
em redor...
A
flor é alacre,
de
pétalas vermelhas!
E
a ave
prende
nas suas penas
irisadas
centelhas...
Lembram
dois namorados
que
o amor
enleia
em fina traça...
-
Vede
como
a ave esvoaça
em
torno da flor!
OBRA
POÉTICA
O
Poema
A
tarde cai,
silenciosa,
morosa...
Na
alma do poeta,
o
poema,
estranha
rosa,
rubra
e preta,
abre...
Afinal,
escrever
um poema
é
fixar uma pena,
sentindo
estoirar
o
calabre
do
coração,
nostálgico
do éden...
-
Vá, poeta,
deixa
o coração sangrar!
Para
que negar
a
esmola que te pedem?
OBRA POÉTICA
- Deixem-me ser eu
um instante, ao
menos...!
Ainda vale a pena!
Deixem-me vir à cena
em primeiro lugar,
a rir ou a chorar
(a mesma coisa
afinal...)!
Deixem-me, antes que
morra,
demolir a masmorra
que eu mesmo construí
com lágrimas e sangue
e, embora exangue,
ser só eu, tal e
qual!
OBRA POÉTICA
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.