RODRIGO
SOLANO
Biografia
1879-1910 Rodrigo
Solano nasceu em Penafiel em 1879 e morreu no Porto em 1910. Trabalhou
na carreira jornalística no "Primeiro de Janeiro", "Correio do
Norte", "Diário Nacional" e "Diário da Tarde". Após a sua morte os poemas dispersos foram compilados em Fumo (1915) por seu irmão Duarte Solano.
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Poesias Eternas Na
trepadeira que dá para uns telhados
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Na trepadeira que dá
para uns telhados
Mora um poeta. Outrora,
calmo e isento
De loucas ambições ou
de cuidados,
Cantava a luz, os sons, o
firmamento.
Porém, a de olhos doces
e rasgados
Riu-se da sua cabeleira
ao vento,
Dos seus sapatos rotos e
cambados...
E ele chora num grande
isolamento.
Não se ria assim, ó pérfida
vizinha!
Ah! Quem lhe dera o
singular tesoiro
Daquele seio, largo mar
sem fundo.
Não ria! Quem lhe dera
ser rainha,
Ter um ceptro, coroa e
trono de oiro
Naquele coração que
vale um mundo!
Do paço azul o Sol às
tardes desce,
Serenamente, a larga
escadaria
E o mar, calado, os
passos lhe vigia
Como um sicário ou um
ladrão refece.
Eis que por fim o Sol
tomba e fenece
Em convulsões e gritos
de agonia.
E bebendo-lhe, o sangue,
em rubra orgia,
Cantando, o mar nas
rochas adormece.
Mas pouco a pouco a noite
vem tombando
E o velho mar, de súbito
acordando,
Rouqueja uma aflição
que não se exprime.
É que o fita sarcástico,
insistente,
Uma caveira branca, a lua
algente,
Que surge recordando-lhe
o seu crime.
Ressurges-me em Sonho.
Serena e desnuda de mármores finges
Estátua descida do friso
dum templo da Grécia que adoro.
E avanças sorrindo, de mão
estendida, e a fronte me cinges
Duma ambicionada, perpétua
e virente coroa de louro.
De braços erguidos,
quebrada a cintura, redondas as ancas,
As curvas suaves, as
curvas divinas da lira recordas
E os loiros cabelos,
cobrindo-te as costas macias e brancas
E até aos artelhos,
compridos, descendo, relembram as cordas.
E ó Sonho supremo da Hélade
antiga! Se acaso me deixas
Que, como liróforo, os
dedos eu roce nas tuas madeixas,
Um hino suave se espraia
na terra, se eleva ao céu.
E, ao ouvi-lo, emudecem
as aves e os ventos, e os rios e as fontes,
E os altos penedos
palpitam. animam-se e descem dos montes...
E ao mundo espantado
renovas o mito da lira de Orfeu.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.