MÁRIO DIONÍSIO
Biografia 1916 Mário Dionísio nasceu em Lisboa em 1916 onde se licenciou em Filologia Românica. Foi durante anos professor do ensino secundário e a seguir ao 25 de Abril professor convidado da Faculdade de Letras de Lisboa. Além de escritor e crítico é ainda pintor.Faleceu em 1993. Principais obras: Vicente Van Gogh, ensaio, Lisboa, 1947; A Paleta e o Mundo, ensaio, Lisboa, 1956/62; Terceira Idade, poesia, Lisboa, 1982; A Morte é para os Outros, contos, Lisboa, 1988.
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Poesias Eternas
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Quando ouvi onde ouvi este rosto vulgar e fatigado
estes olhos brilhantes lá no fundo
e este ar abandonado e inconformado
que aproxima?
Quando ouvi esta voz
que se eleva em surdina em meu ouvido e diz
frases tão conhecidas?
Quando foi que senti
estes dedos amigos nos meus dedos
este aperto de mão
tão comovidamente prolongado?
Não somos nós dois homens estranhos que se cruzam
com o mesmo passado
e com a mesma féria?
Ah dois amigos velhos que se encontram
pela primeira vez
AS SOLICITAÇÕES E EMBOSCADAS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 234
Mil anos que viva não se apaga
a imagem sombria e vacilante
dum homem desconhecido numa esquina
com um lenço na mão manchado de sangue
uma imagem sombria e vacilante
cambaleante no regresso instável
das zonas baças onde o tempo pára
com um lenço na mão manchado de sangue
cambaleante no regresso instável
sem se lembrar da rua onde morou
só com uma ténue sombra do passado
no lenço na mão manchado de sangue
ninguém sabia a sua história
ninguém ouvira a sua voz
de seu só tinha bem pesado
um lenço na mão manchado de sangue
não tinha voz não tinha nome
não tinha pais não tinha amigos
não tinha lar só tinha um lenço
na mão manchado de sangue
O RISO DISSONANTE
, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 237
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.