A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

JOSÉ BLANC DE PORTUGAL

Biografia

 

Poesias Eternas

Bolsa do Comércio das Inteligências

Epigramática

Lírica

Morte na Neve

Ode a Lisboa

Realista

Sem Pressa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lírica

 

Rubianista Pianstein

No seu Bechstein

Vivo teclava

A famosa "Java

Do Embaixador".

Em frente,

No arvoredo,

Embasbacado,

O melro Alfredo,

Deferente,

Pensa no fado

Do tal pintor.

 

Odes Pedestres

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Epigramática

 

Vermes da epigeia somos

Nos poemas doutros astros;

Nem lá novos parecemos...

 

Como a velha burguesia dos actores

Perdido do teatro o sacro antigo,

Por demónios-animais nos tomam...

 

Um dia será vulgar pedir

O poeta pobre dois versos emprestados...

 

Odes Pedestres

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Realista

 

É real o jogo do xadrez.

Mais não gostar do que se tem

 

Outro jogo é.

 

 

Mas o jogo da vida é falsidade apenas

Diga quem a vive o que ela é.

 

Odes Pedestres

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Bolsa do Comércio das Inteligências

 

Abriu cedo a "Bolsa das Inteligências"

Mas o mercado estava deserto e só dois atrasados

Pediram um café e um galão.

 

Mais tarde vieram mais dois combinar qualquer coisa.

Mas, finalmente, antes do meio-dia, já havia tanta gente

Que as acções da "Sociedade Anónima do Génio"

Cotara "compra" e "venda" mas não "efectuado"...

 

Música Ficta e Outros Poemas

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Sem Pressa

 

Penélope:

-- Doze vezes doze...

Quatro vezes três...

Desfazendo agora

Logo recomeço.

Teias da vida adiada

São-me a possível vida.

Quatro mais três cores

A urdidura neutra

Música sem voz

Números calados

Cada instante é reencontro

Não há saudade.

--Nós, os fios da vida,

Forçados nos dedos dela seguimos

A sua vida, não as nossas

 

Ilegíveis

Fala Penélope:

 

"Vida

Teia e urdidura vou cruzando...

Vós, seus fios da minha vida,

Gerais meus futuros filhos."

Inertes nos seus dedos

Respondem a Penélope:

 

"As nossas cores

São tua alegria."

 

Música Ficta e Outros Poemas

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Morte na Neve

 

Na vida em extremo

 

Nem suplicou...

Um instante mais e,

 

Olhos parados

Ossos alongados

Um túmulo na terra figurou:

 

Sem epitáfio,

Sem carpideiras.

Marcas não ficaram

 

Só repouso:

Nem a cor difere

Igual ao cristal que a terra cobre.

 

 

Só montículo insólito abaula

Como ventre pejando a terra sob a neve.

 

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Ode a Lisboa

 

Ó cidade, ó miséria

Ó tudo que entediava

Meus dias perdidos no teu ventre

Ó tristeza, ó mesquinhez cativa

Ó perdidos passos meus cansados

Ó noites sem noite nem dia

Ó dias iguais às noites

Sem esperança de outros melhor haver

Ou, pior, esperando alguém que não havia

Ó cidade, ó meus amigos idos

(tive-os eu ao menos como tal um dia dia?)

Ó cansaço de tudo igual a chuva e o céu azul imenso

Igual em toda a volta, meses de calor,

Ou água suspensa, nuvens indistintas

Ou cordas de chuva a não poupar-me!

Igual, igual, igual por toda a banda

Ó miséria de sempre!

Tua miséria, ó cidade

Minha miséria igual em tudo

Igual às tuas ruas cheias

Igual às tuas ruas desertas

Igual às tuas ruas de dia

Igual às tuas ruas de noite

Igual à dos teus grandes

E das tuas prostitutas

Igual às dos teus homens corrompidos

E,

piormente igual à dos teus sábios!

 

 

 

Ó cidade igual inigualada

Por que te chamo perdidamente igual?

 

 

 

Tua miséria não é miséria,

Tua tristeza não é tristeza

Tudo que me perdeste para ti não é perdido:

Meus passos firmaram-te as pedras;

Tuas noites foram o meu sol;

Teus dias me foram descanso...

Iguais, dias, noites, minha desesperança

Era o próprio esperar doutras certezas:

A certeza de só poder tornar-se

O alguém que é forçoso haver!

 

 

 

Os meus amigos idos

Por tal seriam por certo perdidos

Sei — como não? que existiram:

Lá estão.

 

 

 

Ó cidade! o cansaço seguiu-me

— não era teu.

Igual o tempo está comigo

— não era teu...

Igual, igual, igual por toda a banda. . .

A miséria, o desalento aqui os tenho

— Também não eram teus.

 

 

 

Mas a gente era tua e eu também.

Lá ficou; e eu,

Ó cidade, ó miséria,

Ó tudo que me entediava,

Meus dias perdidos no teu ventre!...

Sei que nada me pertence

É tudo teu!

E eu me glorifico por eu e os meus

Sermos só de ti que és de Deus!

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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