JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
Biografia
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Poesias Eternas Bolsa do Comércio das Inteligências
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Rubianista Pianstein
No seu Bechstein
Vivo teclava
A famosa "Java
Do Embaixador".
Em frente,
No arvoredo,
Embasbacado,
O melro Alfredo,
Deferente,
Pensa no fado
Do tal pintor.
Odes Pedestres
Vermes da epigeia somos
Nos poemas doutros astros;
Nem lá novos parecemos...
Como a velha burguesia dos actores
Perdido do teatro o sacro antigo,
Por demónios-animais nos tomam...
Um dia será vulgar pedir
O poeta pobre dois versos emprestados...
Odes Pedestres
É real o jogo do xadrez.
Mais não gostar do que se tem
Outro jogo é. |
Mas o jogo da vida é falsidade apenas
Diga quem a vive o que ela é.
Odes Pedestres
Bolsa do Comércio das Inteligências
Abriu cedo a "Bolsa das Inteligências"
Mas o mercado estava deserto e só dois atrasados
Pediram um café e um galão.
Mais tarde vieram mais dois combinar qualquer coisa.
Mas, finalmente, antes do meio-dia, já havia tanta gente
Que as acções da "Sociedade Anónima do Génio"
Cotara "compra" e "venda" mas não "efectuado"...
Música Ficta e Outros Poemas
Penélope:
-- Doze vezes doze...
Quatro vezes três...
Desfazendo agora
Logo recomeço.
Teias da vida adiada
São-me a possível vida.
Quatro mais três cores
A urdidura neutra
Música sem voz
Números calados
Cada instante é reencontro
Não há saudade.
--Nós, os fios da vida,
Forçados nos dedos dela seguimos
A sua vida, não as nossas
Ilegíveis
Fala Penélope:
"Vida
Teia e urdidura vou cruzando...
Vós, seus fios da minha vida,
Gerais meus futuros filhos."
Inertes nos seus dedos
Respondem a Penélope:
"As nossas cores
São tua alegria."
Música Ficta e Outros Poemas
Na vida em extremo
Nem suplicou...
Um instante mais e,
Olhos parados
Ossos alongados
Um túmulo na terra figurou:
Sem epitáfio,
Sem carpideiras.
Marcas não ficaram
Só repouso:
Nem a cor difere
Igual ao cristal que a terra cobre.
Só montículo insólito abaula
Como ventre pejando a terra sob a neve.
Música Ficta e Outros Poemas
Ó cidade, ó miséria
Ó tudo que entediava
Meus dias perdidos no teu ventre
Ó tristeza, ó mesquinhez cativa
Ó perdidos passos meus cansados
Ó noites sem noite nem dia
Ó dias iguais às noites
Sem esperança de outros melhor haver
Ou, pior, esperando alguém que não havia
Ó cidade, ó meus amigos idos
(tive-os eu ao menos como tal um dia dia?)
Ó cansaço de tudo igual a chuva e o céu azul imenso
Igual em toda a volta, meses de calor,
Ou água suspensa, nuvens indistintas
Ou cordas de chuva a não poupar-me!
Igual, igual, igual por toda a banda
Ó miséria de sempre!
Tua miséria, ó cidade
Minha miséria igual em tudo
Igual às tuas ruas cheias
Igual às tuas ruas desertas
Igual às tuas ruas de dia
Igual às tuas ruas de noite
Igual à dos teus grandes
E das tuas prostitutas
Igual às dos teus homens corrompidos
E,
piormente igual à dos teus sábios!
Ó cidade igual inigualada
Por que te chamo perdidamente igual?
Tua miséria não é miséria,
Tua tristeza não é tristeza
Tudo que me perdeste para ti não é perdido:
Meus passos firmaram-te as pedras;
Tuas noites foram o meu sol;
Teus dias me foram descanso...
Iguais, dias, noites, minha desesperança
Era o próprio esperar doutras certezas:
A certeza de só poder tornar-se
O alguém que é forçoso haver!
Os meus amigos idos
Por tal seriam por certo perdidos
Sei — como não? que existiram:
Lá estão.
Ó cidade! o cansaço seguiu-me
— não era teu.
Igual o tempo está comigo
— não era teu...
Igual, igual, igual por toda a banda. . .
A miséria, o desalento aqui os tenho
— Também não eram teus.
Mas a gente era tua e eu também.
Lá ficou; e eu,
Ó cidade, ó miséria,
Ó tudo que me entediava,
Meus dias perdidos no teu ventre!...
Sei que nada me pertence
É tudo teu!
E eu me glorifico por eu e os meus
Sermos só de ti que és de Deus!
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.