A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA

Biografia

1744-1787

Portugal Portugal

José Anastácio da Cunha nasceu em Lisboa em 1744 e faleceu em 1787. Foi nomeado pelo Marquês de Pombal lente na Universidade de Coimbra.

 

Poesias Eternas

Dois Poemas

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Dois Poemas

 

 

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Tantos anos de amor na prisão dura.

padecendo martírios cento a cento.

já sair não espero da amargura.

nem para me queixar já tenho alento.

 

Informam-te da minha desventura

os ecos dos meus ais. Ah ! Se algum vento,

benigno a teus ouvidos, porventura,

levar alguns, tem dó do meu tormento.

 

Se deres algum pranto à crueldade

do meu mal, poderei menos senti-lo:

teu pranto abrandará sua impiedade.

 

Louco, que peço? Basta que, ao ouvi-lo.

te enterneças. Ao menos, por piedade,

basta que digas: – Mísero Mertilo?

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2

 

Ditoso o que em paternas, poucas jeiras

seus desejos encerra e seus cuidados,

e respira, contente, o ar nativo

em terra sua!

 

Seus gados lhe dão leite; pão seus campos;

seus rebanhos vestido; pelo Estio,

acha nas próprias árvores a sombra;

de Inverno, o lume.

 

Correm-lhe em um desleixo abençoado

suavemente as horas, dias e anos:

com saúde no corpo, paz no espírito

vela tranquilo.

 

A sono solto dorme; o estudo e cómodo

possui unidos – lícito recreio -

e com a meditação mais saborosa

goza o retiro.

 

Deixem-me assim viver, desconhecido;

deixem-me assim morrer, sem ser chorado,

do mundo homiziado e sem que a campa

diga onde jazo.

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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