GIL VICENTE
Biografia 1465-1536
Dramaturgo
e poeta português. Não há dados seguros acerca da sua biografia.
Eventualmente terá nascido em Guimarães. Como
dramaturgo, conservam-se hoje 44 peças suas de vários géneros. A circulação
da sua obra fazia-se, em parte, através de folhetos impressos, em literatura de
cordel, datando a primeira compilação das suas peças, a COMPILAÇAM DE
TODALAS OBRAS DE GIL VICENTE (da responsabilidade de seu filho, Luís Vicente),
de 1562. Gil
Vicente retrata a sociedade portuguesa do seu tempo, em todos os seus vícios e
impulsos, num registo de valor incomensurável para o conhecimento da época. Do
ponto de vista poético, é notável a sua capacidade de captar as mais
diferentes tonalidades e registos de linguagem - a linguagem típica de cada
grupo social, de cada atitude, em diálogos ou monólogos extremamente vivos que
os definem exemplarmente. Consegue exprimir, em tom adequado, tanto as mais
elevadas vivências espirituais, como o sofrimento dramático, a manha ou a inocência
de certas personagens, ou ainda a força viva da natureza, em elementos que a
personificam. Não sendo um inovador (recorre sobretudo à métrica
tradicional), recolhe a vivacidade da linguagem coloquial na sua variedade e no
seu poder sugestivo. Gil
Vicente é figura ímpar do espírito medieval e dos inícios do Humanismo, Gil
Vicente é figura ímpar da tendência lírica, sentimental, representada por
outros poetas, como Bernardim Ribeiro. Da
sua obra destacamos: Auto da Barca do Inferno, Auto da Feira, Auto da Índia,
Farsa dos Almocreves, Quem tem Farelos?, Farsa de Inês Pereira, O Monólogo do
Vaqueiro, Auto de Mofina Mendes, Comédia de Amadis de Gaula entre tantas
outras. retirado
da Breve História da Literatura Portuguesa - Autores: Vida e Obra, Texto
Editora, Lisboa, 1999, 1ª edição
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Poesias Eternas
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A serra é alta, fria e nevosa;
vi venir serrana gentil, graciosa.
Vi venir serrana, gentil, graciosa;
cheguei-me per’ela com grã cortesia.
Cheguei-me per’ela de grã cortesia,
disse-lhe: senhora, quereis companhia?
Disse-lhe: senhora, quereis companhia?
Disse-me: escudeiro, segui vossa via.
Já não quer minha senhora
que lhe fale em apartado:
Oh, que mal tão alongado !
Minha senhora me disse
que me quer falar um dia;
agora, por meu pecado,
disse-me que não podia.
Oh, que mal tão alongado !
Minha senhora me disse
que me queria falar;
agora, por meu pecado,
não me quer ver nem olhar.
Oh, que mal tão alongado !
Agora, por meu pecado,
disse-me que não podia.
Ir-me-ei triste pelo mundo
onde me levar a dita.
Oh, que mal tão alongado.
Adorai, montanhas,
o Deus das alturas,
também das verduras.
Adorai, desertos
e serras floridas,
o Deus dos secretos,
o Senhor das vidas.
Ribeiras crescidas
louvai nas alturas
Deus das criaturas.
Louvai arvoredos
de fruto prezado,
digam os penedos:
Deus seja louvado!
E louve meu gado,
nestas verduras,
o Deus das alturas.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.