A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

FLORBELA ESPANCA

Biografia

 

1894-1930

 

Portugal Portugal

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo, em 1894 e faleceu em 1930.

 

 

Estudou em Évora, até 1917 e em 1919, após o seu primeiro casamento, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa.

 

Florbela Espanca é uma poetisa de excessos, possui uma personalidade riquíssima, cultiva exacerbadamente a paixão, e possui uma voz marcadamente feminina. Os seus três casamentos falhados, tal como as desilusões amorosas que ocorreram ao longo da vida marcaram profundamente a sua obra.

 

A sua primeira obra, Livro de Mágoas, data de 1919.

 

Colaborou com produções suas em várias publicações nacionais nomeadamente Seara Nova, Notícias de Évora, D. Nuno, Civilização, Portugal Feminino e Revista Portuguesa.

 

É, por muitos, considerada a grande figura feminina da literatura portuguesa do início do século.

 

Suicidou-se em Matosinhos na noite de 7 de Dezembro de 1930.

 

 

Obra:

Poesia
Sonetos Completos
O Livro de Mágoas, 1919
Livro de Sóror Saudade, 1923
Charneca em Flor, 1931
Domínio Negro, 1931
Juvenília, 1931
Máscaras do Destino, 1931
 


Cartas, 1931
Diário do Último Ano, 1981
Dominó Preto, 1981
 

Sítios:

Alguns poemas
   
http://iris.ibb.waw.pl/texts/pt/pp/Espanca.html

Alguns poemas
   
http://br.geocities.com/poesiahpbr/poetas/florbela.htm

Bibliografia
   
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/

Biografia
   
http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm

Biografia
   
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/

Biografia - Projecto Vercial
   
http://www.ipn.pt/literatura/espanca.htm

Biografia e Obra
   
http://www.arocha.ezdir.net/

Ensaio sobre Florbela Espanca
   
http://www.ipv.pt/millenium/16_pers10.htm

Ensaio sobre Florbela Espanca
   
http://www.secrel.com.br/jpoesia/geran05.html

Florbela Espanca - A poesia mulher
   
http://www.yanaza.hpg.ig.com.br/Paginas_Pessoais/11/index_hpg.html

Florbela Espanca - projecto releituras
   
http://www.releituras.com/floesvaida.htm

Florbela Espanca - uma Vida, uma Obra
   
http://www.terravista.pt/guincho/1181/

Jornal de Poesia - Florbela Espanca
   
http://www.secrel.com.br/jpoesia/flor.html

Poemas de Florbela Espanca
   
http://viriato.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/florbela.html

Poesia de Florbela Espanca
   
http://alumni.dee.uc.pt/~cibsmile/index_fe.htm

Uma homenagem à poetisa portuguesa
   
http://members.tripod.com/~MarciaAPinheiro/

Vida e obra
   
http://www.terravista.pt/Meco/1397/

Vida e obra
   
http://www.ignoremode.org/fimdamente/a-f/florbelaespanca.htm

 

Poesias Eternas

Rústica

Eu

 Ser Poeta

 Amar

Frémito do Meu Corpo

À Janela de Garcia de Resende

Amor que Morre

Os Versos Que Te Fiz

 

 

 

 

 

 

 


Rústica

 

Ser a moça mais linda do povoado,

Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,

Ver descer sobre o ninho aconchegado

A bênção do Senhor em cada filho.

 

Um vestido de chita bem lavado,

Cheirando a alfazema e a tomilho...

Com o luar matar a sede ao gado,

Dar às pombas o sol num grão de milho...

 

Ser pura como a água da cisterna,

Ter confiança numa vida eterna

Quando descer à "terra da verdade"...

 

Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!

Dou por elas meu trono de Princesa,

E todos os meus Reinos de Ansiedade.

 

 

CHARNECA EM FLOR, SONETOS, LIVRARIA BERTRAND, AMADORA, 1978, 16ª EDIÇÃO, P.116

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 Eu

 

Até agora eu não me conhecia.

Julgava que era eu e eu não era

Aquela que em meus versos descrevera

Tão clara como a fonte e como o dia.

 

Mas que eu não era Eu não o sabia

E, mesmo que o soubesse, o não dissera...

Olhos fitos em rútila quimera

Andava atrás de mim... e não me via!

 

Andava a procurar-me - pobre louca! -

E achei o meu olhar no teu olhar,

E a minha boca sobre a tua boca!

 

E esta ânsia de viver, que nada acalma,

É a chama da tua alma a esbrasear

As apagadas cinzas da minha alma!

 

CHARNECA EM FLOR, SONETOS, LIVRARIA BERTRAND, AMADORA, 1978, 16ª EDIÇÃO, P.120

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Ser poeta

 

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e Além Dor!

 

É ter de mil desejos o esplendor

É não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

 

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

 

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

 

CHARNECA EM FLOR, SONETOS, LIVRARIA BERTRAND, AMADORA, 1978, 16ª EDIÇÃO, P.134

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Amar!

 

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma Primavera em cada vida

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

 

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

 

CHARNECA EM FLOR, SONETOS, LIVRARIA BERTRAND, AMADORA, 1978, 16ª EDIÇÃO, P.137

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Frémito Do Meu Corpo

 

Frémito do meu corpo a procurar-te.

Febre das tuas mãos na minha pele

Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,

Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

 

Olhos buscando os teus por toda a parte,

Sede de beijos, amargor de fel.

Estonteante fome, áspera e cruel,

Que nada existe que a mitigue e farte!

 

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma

junto da minha, uma lagoa calma,

A dizer-me, a cantar que me não amas...

 

E o meu coração que tu não sentes

Vai boiando ao acaso das correntes,

Esquife negro sobre um mar de chamas.

 

 

in "Sonetos"

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Amor Que Morre

 

O nosso amor morreu... Quem o diria!

Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,

Ceguinha de te ver, sem ver a conta

Do tempo que passava, que fugia!

 

Bem estava a sentir que ele morria...

E outro clarao, ao longe, ja' desponta!

Um engano que morre... e logo aponta

A luz doutra miragem fugidia...

 

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver

Sao precisos amores, pra morrer,

E sao precisos sonhos para partir.

 

E bem sei, meu Amor, que era preciso

Fazer do amor que parte o claro riso

De outro amor impossível que ha'-de vir!

in "Sonetos"

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Os Versos Que Te Fiz

 

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem pra te dizer!

São talhados em mármore de Páros

Cinzelados por mim pra te oferecer.

 

Têm dolências de veludos caros,

São como sedas pálidas a arder...

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que foram feitos pra te endoidecer!

 

Mas, meu Amor, eu não t'os digo ainda...

Que a boca da mulher é sempre linda

Se dentro guarda um verso que não diz!

 

Amo-te tanto! E nunca te beijei...

E nesse beijo, Amor, que eu te não dei

Guardo os versos mais lindos que te fiz!

 

 

À Janela de Garcia de Resende

 

Janela antiga sobre a rua plana...

Ilumina-a o luar com seu clarão...

Dantes, a descansar de luta insana,

Fui, talvez, flor no poético balcão...

 

Dantes! da minha glória altiva e ufana,

Talvez... quem sabe?... tonto de ilusão,

Meu rude coração de alentejana

Me palpitasse ao luar nesse balcão...

 

Mística dona, em outras primaveras,

Em refulgentes horas de outras eras,

Vi passar o cortejo ao sol doirado...

 

Bandeiras! pajens! o pendão real!

E na tua mão, vermelha, triunfal,

Minha divisa: um coração chagado!...

 

 

 

 

 

in "Sonetos"

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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