FERNANDO
NAMORA
Biografia 1919-1989 Fernando
Namora (1919-1989) nasceu em Condeiza-a-Nova e faleceu em Lisboa. Formou-se em
Medicina em Coimbra e exerceu a sua profissão na Beira e no Alentejo e,
posteriormente, em Lisboa. Deixou a sua profissão para se dedicar à sua vasta
obra literária. Obras a destacar: Relevos, poemas, Coimbra, 1938; Terra, poemas, Coimbra, 1941; Casa da Malta, novela, Coimbra, 1945; Retalhos da Vida de um Médico, narrativas, Lisboa, 1949-1963; Domingo à Tarde, romance, Lisboa, 1961; Diálogo em Setembro, crónica romanceada, 1966; Marketing, poesia, Lisboa, 1969; Os Clandestinos, romance, Lisboa, 1972; Resposta a Matilde, Lisboa, 1980; O Rio Triste, romance, Lisboa, 1982; Sentados na Relva, cadernos de um escritor, Lisboa, 1986 do livro TERRA,
"Novo Cancioneiro", Coimbra, 1941
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Poesias Eternas
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Todos os caminhos vão
encontrar as "almas".
De pedra branquinha, cruz
talhada no cimo
e as chamas que o Senhor
atiçou para purificar as almas.
Padre-nosso... Avé-Maria...
O pintor nem esqueceu o
pudro dos penitentes.
Padre-nosso... Livrai-nos
do fogo, Santo Deus!
Há uma caixinha para as
esmolas da igreja.
E o trabalhador vem,
despeja a reza e a moeda.
Mas veio um ladrão e
roubou o dinheiro.
Sacrilégio!
O Senhor lá continua
sentado no trono.
E o fogo revive no corpo
dos homens.
Onde fica o mundo?
Só pinhais, matos,
charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul
de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os
rios?
Caminhos de pedra,
sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois
e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia jogar.
Mas vieram engenheiros e
máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava
um outro povo.
E hoje a terra é livre e
fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina
é uma serpente ondulada
e dele nasce a sede da
fuga como as águas dum rio.
Veio o estio Cacilda!
Chiar de bois,
milho amarelo,
suor na gente,
sestas na terra,
poços sem água,
os dias grandões!
Veio o estio, Cacilda!
Leva ao monte o almoço
do teu home
e beija-lhe a testa suada
se ainda souberes!
Olha o campo doirado,
as espigas inchadas,
os pássaros no figo,
os moscardos no gado,
os meninos despidos!
Veio o estio, Cacilda!
Guarda o sono para o
inverno
que é preciso encher o
lar!
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.