A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

DUARTE DE VIVEIROS

Biografia

1897-1937

Portugal Portugal

Duarte de Viveiros nasceu em Ponta Delgada - Açores - em 1897 e faleceu em Lisboa em 1937. Formou-se em Direito em Coimbra. Não publicou nenhum livro. Os seus poemas dispersos foram coligidos por Ruy Galvão de Carvalho nos anos sessenta em Obra Poética.

 

Poesias Eternas

António Nobre

Lady Quimera

Mar-Alto

A Morte do Herói

Saudades do Príncipe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saudades do Príncipe

(Meditação sobre o retrato de um menino)

 

Ao Luiz de Montalvor

 

 

Tal como a vinha bíblica de Agosto

Que entrelaça os jardins da eterna Ilha,

A infância de oiro, ao recordá-la, brilha

No crepúsculo azul do meu desgosto...

 

A graça pura que ilumina um rosto

O Oriente, a Fonte, a auroral maravilha

Olorosos cigarros de baunilha

Que acendo no braseiro do Sol-Posto!

 

E fumo e sofro. Traço a nova rota...

Cautela! Ouço os bramidos da derrota:

Trémula, cai no mapa, a minha mão!

 

Divina infância heráldica! Oh janais

As formosas tristezas de rapaz...

Bate mais devagar, meu coração!

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A Morte do Herói

 

À memória de Sidónio Pais

 

 

A rajada rompeu das ovações...

O herói tinha chegado, o herói lendário,

Como se fosse um Deus extraordinário

Que dilatasse o ritmo aos corações!

 

Da raça o génio anónimo e fecundo

Bramia o cântico do triunfo. Palmas...

E o concerto sinfónico das almas

Era um clarão de glória sobre o mundo!

 

Tinha voltado El-Rei jamais!... E, no entanto,

Ergueu-se a mão do crime e, com espanto,

O herói tombou no panteão da história!

 

Mas a bala assassina, ó mártir, juro!

Mais que arrancar-te a vida transitória,

Foi atingir o corpo do Futuro!

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Mar Alto

 

A Raul Leal

 

As oitavas de espuma que eu exalto

Na minha inspiração de marinheiro,

Tornam meu peito, o nobre cancioneiro,

Da dor humana, praia do Mar-Alto!...

 

Piloto da saudade, entre o nevoeiro

Da dúvida, em constante sobressalto...

Enquanto o Céu não for azul-cobalto,

A nau singra, perdida, no cruzeiro...

 

Sou tripulante do navio fantasma...

E o próprio Sol da morte se entusiasma

Quando as chamas enfloram a minha fronte!

 

É noite. Tomba o luar das serenatas...

Recebo a bordo um bando de piratas

E, a todo o pano, avanço no horizonte!

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Lady Quimera

 

A António Sardinha

 

 

Lady Quimera passa, na tardinha,

Sonâmbula, anuncianado claridades...

Beija-me a fronte, afaga-me as vaidades,

Diz-me - sou tua! E o poeta diz-lhe - és minha!

 

Mas a virgem das brumas, a purinha,

Ao reino do mistério e das saudades

Regressa em breve. Tocam as Trindades:

E às portas do luar levo a Rainha!

 

Nunca mais, nunca mais, Lady Quimera,

Eu hei-de vê-la, para me embalar

No berço azul daquela Primavera...

 

Nunca mais flutuará na minha mão,

Feito, como era, para pedoar,

A argila do meu forte coração!

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António Nobre

 

Anto: sai dessa cova! (É Primavera...)

Abre teus olhos grandes, poeta amigo,

E vem compor estrofes de oiro antigo

Na torre do Silêncio e da Quimera!

 

Por ti, saudosa, a Lusitânia espera!

Depressa, acorda. Deixa o teu jazigo...

Embrulha-te na capa e vem comigo,

Que o luar de azul está pintando a esfera!

 

Meu pálido e moderno português:

Não venhas triste como da outra vez

Em que eras tímida criança ainda!

 

Mas, traz os versos que fizeste à neve,

Aí nessa terra maternal e leve...

Bardo: levanta-te! (Que noite linda!)

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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