DUARTE DE VIVEIROS
Biografia 1897-1937 Duarte de Viveiros nasceu em Ponta Delgada - Açores - em 1897 e faleceu em Lisboa em 1937. Formou-se em Direito em Coimbra. Não publicou nenhum livro. Os seus poemas dispersos foram coligidos por Ruy Galvão de Carvalho nos anos sessenta em Obra Poética.
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Poesias Eternas
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(Meditação sobre o retrato de um menino)
Ao Luiz de Montalvor
Tal como a vinha bíblica de Agosto
Que entrelaça os jardins da eterna Ilha,
A infância de oiro, ao recordá-la, brilha
No crepúsculo azul do meu desgosto...
A graça pura que ilumina um rosto
O Oriente, a Fonte, a auroral maravilha
Olorosos cigarros de baunilha
Que acendo no braseiro do Sol-Posto!
E fumo e sofro. Traço a nova rota...
Cautela! Ouço os bramidos da derrota:
Trémula, cai no mapa, a minha mão!
Divina infância heráldica! Oh janais
As formosas tristezas de rapaz...
Bate mais devagar, meu coração!
À memória de Sidónio Pais
A rajada rompeu das ovações...
O herói tinha chegado, o herói lendário,
Como se fosse um Deus extraordinário
Que dilatasse o ritmo aos corações!
Da raça o génio anónimo e fecundo
Bramia o cântico do triunfo. Palmas...
E o concerto sinfónico das almas
Era um clarão de glória sobre o mundo!
Tinha voltado El-Rei jamais!... E, no entanto,
Ergueu-se a mão do crime e, com espanto,
O herói tombou no panteão da história!
Mas a bala assassina, ó mártir, juro!
Mais que arrancar-te a vida transitória,
Foi atingir o corpo do Futuro!
A Raul Leal
As oitavas de espuma que eu exalto
Na minha inspiração de marinheiro,
Tornam meu peito, o nobre cancioneiro,
Da dor humana, praia do Mar-Alto!...
Piloto da saudade, entre o nevoeiro
Da dúvida, em constante sobressalto...
Enquanto o Céu não for azul-cobalto,
A nau singra, perdida, no cruzeiro...
Sou tripulante do navio fantasma...
E o próprio Sol da morte se entusiasma
Quando as chamas enfloram a minha fronte!
É noite. Tomba o luar das serenatas...
Recebo a bordo um bando de piratas
E, a todo o pano, avanço no horizonte!
A António Sardinha
Lady Quimera passa, na tardinha,
Sonâmbula, anuncianado claridades...
Beija-me a fronte, afaga-me as vaidades,
Diz-me - sou tua! E o poeta diz-lhe - és minha!
Mas a virgem das brumas, a purinha,
Ao reino do mistério e das saudades
Regressa em breve. Tocam as Trindades:
E às portas do luar levo a Rainha!
Nunca mais, nunca mais, Lady Quimera,
Eu hei-de vê-la, para me embalar
No berço azul daquela Primavera...
Nunca mais flutuará na minha mão,
Feito, como era, para pedoar,
A argila do meu forte coração!
Anto: sai dessa cova! (É Primavera...)
Abre teus olhos grandes, poeta amigo,
E vem compor estrofes de oiro antigo
Na torre do Silêncio e da Quimera!
Por ti, saudosa, a Lusitânia espera!
Depressa, acorda. Deixa o teu jazigo...
Embrulha-te na capa e vem comigo,
Que o luar de azul está pintando a esfera!
Meu pálido e moderno português:
Não venhas triste como da outra vez
Em que eras tímida criança ainda!
Mas, traz os versos que fizeste à neve,
Aí nessa terra maternal e leve...
Bardo: levanta-te! (Que noite linda!)
Voltar para Poetas de PortugalA Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.