Artista primoroso, burilava

Com todo o esmero os versos que fazia,

Duma tal correcção e louçania,

Que nenhum outro poeta o suplantava.

Se voos de águia raro desprendia,

Nas empresas discretas que buscava

Conseguia brilhar, e sempre honrava

A musa delicada que servia...

Como Diogo Bernardes e Agostinho

Nasceu nesse vergel que é o nosso Minho,

Junto às margens do Lima feiticeiro...

Mas foi mais infeliz que eles, coitado!

Porque longe morreu do ninho amado,

Numa cidade fria... no estrangeiro!

Tarefa gigantesca e vasta empresa

A que toda a existência consagraste,

Tão conforme à divisa que adoptaste,

Filho excelso da terra portuguesa!

O tenebroso mar tu dominaste,

Numa campanha audaz, com a firmeza

Da tua ardente fé, a alma acesa

No sonho generoso que sonhaste.

Os mistérios do ignoto desvendando,

A nossa terra foste acrescentando

Com novas ilhas, férteis regiões...

Graças ao teu esforço inteligente,

Um obscuro rincão de pobre gente

Tornou-se o berço ilustre de Camões!

Santa Cruz, - o Brasil! Esta palavra soa

Qual nota de oboé, irresistível brado!

Para o povo português é como Eldorado,

Fagueira região que a Fortuna povoa!

Ao Brasil! Ao Brasil, barcos metei a proa,

Singrando pelo mar com rumo bem marcado!

Levai a salvamento o emigrane arrojado

Que deixa a soluçar a barra de Lisboa.

Ai quantos dos que vão sucumbem na batalha,

Não logrando sequer a esmola da mortalha

Que a Santa Cruz dá entre nós à pobreza!

Mas antes o Brasil que outro ponto estrangeiro...

Ao menos ali dorme o luso aventureiro

O sono derradeiro em terra portuguesa!