A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

CARLOS QUEIRÓS

Biografia

1907-1949

Portugal Portugal

Carlos Queirós de seu nome completo José Carlos Queirós Nunes Ribeiro nasceu em Lisboa em 1907 e faleceu em Paris em 1949. Um dos seus livros mais conhecidos é Desaparecido e Outros Poemas.

Foi através dele que Fernando Pessoa conheceu Ofélia a quem escreveu as suas cartas e poemas de amor.

 

Poesias Eternas

Apelo à Poesia

Canção Inocente

Desaparecido

Poesia

Varina

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apelo à Poesia

 

Por que vieste? - Não chamei por ti!

Era tão natural o que eu pensava,

(Nem triste, nem alegre, de maneira

Que pudesse sentir a tua falta...)

E tu vieste,

Como se fosses necessária!

 

Poesia! nunca mais venhas assim:

Pé ante pé, covardemente oculta

Nas ideias mais simples,

Nos mais ingénuos sentimentos:

Um sorriso, um olhar, uma lembrança...

- Não sejas como o Amor!

 

É verdade que vens, como se fosses

Uma parte de mim que vive longe,

Presa ao meu coração

Por um elo invisível;

Mas não regresses mais sem que eu te chame,

- Não sejas como a Saudade!

 

De súbito, arrebatas-me, através

De zonas espectrais, de ignotos climas;

E, quando desço à vida, já não sei

Onde era o meu lugar...

Poesia! nunca mais venhas assim,

- Não sejas como a Loucura!

 

Embora a dor me fira, de tal modo

Que só as tuas mãos saibam curar-me,

Ou ninguém, se não tu, possa entender

O meu contentamento,

Não venhas nunca mais sem que eu te chame,

- Não sejas como a Morte!

 

 DESAPARECIDO, LÍRICAS PORTUGUESAS. PORTUGÁLIA EDITORA, P. 328

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Desaparecido

 

Sempre que leio nos jornais:

"De casa de seus pais desapareceu..."

Embora sejam outros os sinais,

Suponho sempre que sou eu.

 

Eu, verdadeiramente jovem,

Que por caminhos meus e naturais,

Do meu veleiro, que ora os outros movem,

Pudesse ser o próprio arrais.

 

Eu, que tentasse errado norte;

Vencido, embora, por contrário vento,

Mas desprezasse, consciente e forte,

O porto de arrependimento.

 

Eu, que pudesse, enfim, ser meu

- Livre o instinto, em vez de coagido,

"De casa de seus pais desapareceu..."

Eu, o feliz desaparecido

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Poesia

 

Como escamas largadas no percurso

De longa pista aquática,

Fiquem os versos cintilando

Á flor da espuma lunática.

A alma - desnuda, imersa

A outros ritmos inefáveis -

Tem sede doutros encontros

Mais amáveis, mais amáveis

 

BREVE TRATADO DE NÃO-VERSIFICAÇÃO, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 334

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Varina

Ó varina, passa,

Passa tu primeiro...

Que és a flor da raça,

A mais séria graça

Do país inteiro!

 

Teu orgulho seja

Sonora fanfarra,

Zimbório de igreja!

Que logo te veja

Quem entra na barra.

 

Lisboa, esquecida

Que é porto de mar,

Fica esclarecida

E reconhecida

Se te vê passar

 

Dá-lhe a tua graça

Clássica e sadia,

Ó Varina, passa...

Na noite da raça

Teu pregão faz dia!

 

Vê que toda a gente

Ao ver-te, sorri.

Não sabe o que sente,

Mas fica contente

De olhar para ti.

 

E sobre o que pensa

Quem te vê passar,

Eterna, suspensa,

Acena a imensa

Presença do Mar!

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Canção Inocente

 

Menino: queres ser meu mestre?

- Contigo teria tanto que aprender!

 

A ser casto, sem querer;

a ser bom, sem o saber;

 

a ser alegre, sem ter

motivos para o ser.

 

Menino: queres ser meu mestre?

- Deixa o teu arco aí. Vem-me ensinar

 

a sorrir e a confiar;

a ter esperança e a perdoar;

a esquecer e a chorar...

 

Menino, que brincas no jardim:

- Tu sim,

podias ser um mestre para mim!

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