A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

CAMILO PESSANHA

Biografia

1867-1926

Portugal Portugal

Camilo de Almeida Pessanha nasceu em Coimbra, em 1867 e faleceu vítima de tuberculose, em 1926.

Em 1891, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo posteriormente vivido em Macau. Desempenhou diversos profissões nomeadamente advogado, professor e conservador do registo predial de Macau.

A sua obra Clepsidra, datada de 1922, resulta de uma recolha feita por João de Castro Osório e Ana de Castro Osório, de poemas e trabalhos seus que se encontravam dispersos por diversos jornais e revistas. Esta obra teve uma grande influência sobre a geração de Orpheu.

Colaborou com produções suas em diversas publicações, entre as quais Ave Azul, Atlântico e Centauro. É considerado o mais genuíno representante do simbolismo português. A sua obra China, datada de 1944, consiste num conjunto de estudos e ensaios sobre a civilização, literatura e cultura chinesas.

 

Obra:

Poesia
Clepsidra, 1926
 


China, estudos e tradições, 1944
 

 

Poesias Eternas

 

Paisagens de Inverno

Queda

Vida

Violoncelo

 

 

 

 

 

 


Paisagens de Inverno

(A Alberto Osório de Castro)

 

 

             Ó meu coração, torna para traz.

Onde vais a correr desatinado?

Meus olhos incendidos que o pecado

Queimou! Volvei, longas noites de paz.

 

            Vergam da neve os olmos dos caminhos

A cinza arrefeceu sobre o brasido.

Noites da serra, o casebre transido...

Cismai, meus olhos, como uns velhinhos.

 

            Extintas primaveras, evocai-as.

Já vai florir o pomr das maceiras.

Hemos de enfeitar os chapéus de maias.

 

            Sossegai, olhos febris...

Hemos de ir a cantar nas derradeiras

Ladainhas... Doces vozes senis.

topo

 

 

 

 


 

Queda

(A João P. Vasco)

 

 

            O meu coração desce,

Um balão apagado.

 

                        Melhor fora que ardesse

                        Nas trevas incendiado.

 

            Na bruma fastidienta...

Como à cova um caixão.

 

                                        Porque antes não rebenta

                                        Rubro, n'uma explosão?

 

                                        Que apego inda o sustem?

Atono, miserando.

 

Que o esmagasse o trem

De um comboio arquejando.

 

                O inane, vil despojo.

Ó alma egoista e fraca...

 

Trouxesse-o o mar de rojo

Levasse-o na ressaca.

topo

 

 

 

 


 

Vida

 

                Choveu! E logo da terra humosa

Irrompe o campo das liliáceas.

Foi bem fecunda, a estação pluviosa!

Que vigor no campo das liliáceas!

 

                Calquem. Recal-quem, não o afogam.

Deixem. Não calquem. Que tudo invadam.

Não as extingem. Porque as degradam?

Para que as calcam? Não as afogam.

 

                Olhem o fogo que anda na serra.

É a queimada... Que lumaréu!

Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,

Que não apagam o lumaréu.

 

                Deixem! Não calquem! Deixem arder.

Se aqui o pisam, rebenta além.

- E se arde tudo? - Isso que tem?

Deitam-lhe fogo, é para arder...

topo

 

 

 


 

Violoncelo

(A Carlos Amaro)

 

 

                Chorai, arcadas

Do violoncelo,

Convulsionadas.

Pontes aladas

De pesadelo...

 

                De que esvoaçam,

Brancos, os arcos,

Por baixo passam,

Se despedaçam,

No rio os barcos.

 

                Fundas, soluçam

Caudais de choro.

Que ruínas, ouçam...

Se se debruçam,

Que sorvedouro!

 

                    Lívidos astros,

Soidões lacustres...

Lemes e mastros...

E os alabastros

Dos balaústres!

 

                    Urnas quebradas.

Blocos de gelo!

Chorai, arcadas

Do violondelo,

Despedaçadas.

topo

Portugal Voltar para Poetas de Portugal

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1