CAMILO
PESSANHA
Biografia 1867-1926
|
Poesias Eternas
|
(A
Alberto Osório de Castro)
Ó meu coração, torna para traz.
Onde
vais a correr desatinado?
Meus
olhos incendidos que o pecado
Queimou!
Volvei, longas noites de paz.
Vergam da neve os olmos dos caminhos
A
cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites
da serra, o casebre transido...
Cismai,
meus olhos, como uns velhinhos.
Extintas primaveras, evocai-as.
Já
vai florir o pomr das maceiras.
Hemos
de enfeitar os chapéus de maias.
Sossegai, olhos febris...
Hemos
de ir a cantar nas derradeiras
Ladainhas...
Doces vozes senis.
(A João
P. Vasco)
O meu coração desce,
Um
balão apagado.
Melhor fora que ardesse
Nas trevas incendiado.
Na bruma fastidienta...
Como
à cova um caixão.
Porque antes não rebenta
Rubro, n'uma explosão?
Que apego inda o sustem?
Atono,
miserando.
Que o esmagasse o trem
De um comboio arquejando.
O
inane, vil despojo.
Ó
alma egoista e fraca...
Trouxesse-o o mar de rojo
Levasse-o na ressaca.
Choveu!
E logo da terra humosa
Irrompe
o campo das liliáceas.
Foi
bem fecunda, a estação pluviosa!
Que
vigor no campo das liliáceas!
Calquem. Recal-quem, não o afogam.
Deixem.
Não calquem. Que tudo invadam.
Não
as extingem. Porque as degradam?
Para
que as calcam? Não as afogam.
Olhem o
fogo que anda na serra.
É
a queimada... Que lumaréu!
Podem
calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que
não apagam o lumaréu.
Deixem!
Não calquem! Deixem arder.
Se
aqui o pisam, rebenta além.
-
E se arde tudo? - Isso que tem?
Deitam-lhe
fogo, é para arder...
(A Carlos Amaro)
Chorai,
arcadas
Do violoncelo,
Convulsionadas.
Pontes aladas
De pesadelo...
De que
esvoaçam,
Brancos, os arcos,
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio os barcos.
Fundas,
soluçam
Caudais de choro.
Que ruínas, ouçam...
Se se debruçam,
Que sorvedouro!
Lívidos astros,
Soidões lacustres...
Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas.
Blocos de gelo!
Chorai, arcadas
Do violondelo,
Despedaçadas.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.