ANTÓNIO PATRÍCIO
Biografia 1878-1930 António Patrício nasceu no Porto em 1878 e morreu em Macau em 1930. Formado em Medicina a sua vida foi dedicada à carreira diplomática - Corunha, Cantão, Bremen, Manaus, Atenas, Constantinopla, Londres... Poeta ligado ao simbolismo as suas obras dividiram-se por contos, peças dramáticas de que há a destacar D. João e a Máscara, Pedro o Cru, O Fim. Os seus poemas, para além dos que se encontram dispersos em várias revistas, deixou Poesias, Oceano e postumamente saiu o volume Poesia Completa (1980). |
Poesias Eternas Parsifal |
Yorik o meu galgo, o camarada,
que sentia de longe o teu perfume
(Já chegavas a mim toda beijada
dos seus divinos olhos de ciúme).
O archeiro espúmeo do meu lar,
que me abraçava em horas de fadiga,
morreu esta manhã: - fui-o enterrar,
e tu tão longe, minha pobre amiga!
O mais heróico e belo corredor
correra doidamente pela neve
numa vertigem, num adeus de amor.
Entrou assim na Morte, espectro branco...
Vejo-o a correr divinamente leve,
galgando o além - o nosso galgo branco!...
Flores do jardim, oh! Vinde vós ungir-me,
ungi-me para a vida e para a morte;
ó onda de perfumes a diluir-me,
vaga do ar rolando a minha sorte.
Sonho os jardins de Klingsor... Bailando
vêm, sem pisar, as raparigas-flores...
E mais e mais: o ar vai-se espasmando
- Chovem pétalas sobre as minhas dores!
"O meu amigo?... O meu amor? Aquele?..."
(a ronda dos perfumes vai dizendo).
"Vejo-o e não sei... não sei... Onde está ele?..."
E a cada instante mais, seios a arfar,
vão por entre as folhagens redizendo:
"O meu amigo?... Aquele?....", sem me olhar.
Sinos de Monsalvat... É Sexta-Feira Santa.
Oh! Como os oiço em mim repercutindo,
melodia de argento que mal canta
sobre o silêncio que se vai florindo.
Como os perfumes no ar pascal, rezar:
rezar, rezar: já Parsifal regressa;
negra armadura, vem como a sonhar,
a lnaça para o chão, viseira espessa.
Como um Quixote místico, estremece...
Crava a lança no chão e, extasiado,
tira os guantes férreos, cai em prece.
E Kundry a olhá-lo - já se transfigura -
tem bálsamo da Arábia ali guardado
com que há-de ungi-lo para a Vida pura.
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A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.