Antonio Feliciano de Castilho
Biografia 1800-1875 António Feliciano de Castilho nasceu em 1800 em Lisboa e faleceu na mesma cidade em 1875. Foi escritor, tradutor e pedagogo.
Em 1822 licenciou-se, na Universidade de Coimbra, em Cânones e foi nesta cidade que iniciou a publicação das suas primeiras produções literárias, nomeadamente As Cartas de Eco e Narciso e a Primavera.
Devido ao seu elevado grau de cegueira, sequela deixada pelo sarampo que contraíra aos 6 anos de idade, António Feliciano de Castilho via-se impossibilitado de viver sozinho pelo que após terminar o curso em Coimbra foi viver com o seu irmão, Augusto, numa pequena aldeia da Beira.
A partir de 1842, passou a viver em Lisboa, onde fundou a Revista Universal Lisbonense da qual foi director. Mais tarde passa a viver nos Açores, onde fundou o jornal Agricultor Micaelense do qual foi redactor principal.
António Feliciano de Castilho foi, ainda, ao longo de toda a sua vida tradutor de clássicos latinos e modernos.
D. Luís concedeu-lhe o título de visconde de Castilho.
Obra:
Sítios:
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Poesias Eternas Os treze anos (cantilena) |
Os treze anos (Cantilena)
Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.
Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já bailo ao Domingo,
co' as mais no terreiro.
Já não sou Anita,
como era primeiro,
sou a senhora Ana,
que mora no oiteiro.
Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.
Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda
de cima do oiteiro;
E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co' as patas
ao pé do salgueiro.
Miro-me nas águas
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.
Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.
Em tudo, madrinha,
já por derradeiro,
me vejo mui outra
da que era primeiro.
O meu gibaão largo
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,
Dizendo-lhe: "Toma
gibão domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.
"A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co' as outras
e eu danço em terreiro."
Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já treze anos,
que os fiz em janeiro.
Já não sou Anita,
sou a Ana do oiteiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.
Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras,
e olhar sobranceiro.
O mineiro é velho;
não quero o mineiro;
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.
Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.
Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.
Que em ele assomando
co' o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro;
Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se inda é solteiro.
E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.
Ai, vida de gostos!
ai, céu verdadeiro!
ai, páscoa florida,
que dura ano inteiro!
Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 248
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