A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ANTERO DE QUENTAL

Biografia

1842-1891

Portugal Portugal

Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, São Miguel, em 1842 e suicidou-se nessa mesma cidade em 1891. Frequentou a Universidade de Coimbra tendo pertencido à Geração de 70. Participou, ainda, nas famosas Conferências do Casino. Os Sonetos são a sua obra poética de maior relevo.

Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada, em 1842, tendo-se suicidado na mesma cidade, em 1891.

Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra e em 1865 deu inicio à Questão do Bom Senso e Bom Gosto ou Questão Coimbrã. Datam da altura em que se encontrava a estudar em Coimbra muitos dos poemas que posteriormente integraram as suas obras Primaveras Românticas, de 1872 e Odes Modernas, de 1865.

Trabalhou como tipógrafo na Imprensa Nacional, em Lisboa e em Paris, foi co-director da Revista Ocidental e presidente da Liga Patriótica do Norte. Colaborou na elaboração de associações operárias e escreveu folhetos propagandísticos e artigos para a imprensa dedicando-se desta forma à intervenção revolucionária.

Foi um dos elementos principais do grupo de intelectuais do Cenáculo, promotor das célebres Conferências do Casino e do qual constavam nomes como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Jaime Batalha Reis.

Após a morte do pai, em 1873, regressou aos Açores, tendo-se iniciado um período da sua vida marcado por um grande pessimismo, desilusão e desespero, durante o qual escreveu grande parte dos sonetos que, reunidos em 1886, originaram a obra Sonetos Completos. Esta fase da sua vida terminou em 1880 com o seu regresso ao continente, onde se manteve até 1891, altura em que regressou a Ponta Delgada, tendo-se suicidado nesse mesmo ano.

Antero de Quental foi um grande sonetista, mas é sobretudo na prosa que a sua obra se afirma de forma mais intensa, sendo um dos nomes fundamentais da cultura portuguesa.

 

Obra:

Poesia
Sonetos de Antero, 1861
Beatrice, 1863
Fiat Lux, 1863
Odes Modernas, 1865
Primaveras Românticas, 1872
Sonetos Completos de Antero de Quental, 1886
Cadências Vagas, 1892
Raios de Extinta Luz - Poesias Inéditas 1859-1863, 1892
Esparsos e Traduções, 1918
Raios de Extinta Luz e Outras Poesias, 1948
Sonetos - edição de António Sérgio, 1962
 


A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais
Prosas - 3 volumes - 1923; 1926; 1931
Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX , 1890
Cartas, 1915
Cartas Inéditas de Antero de Quental a Oliveira Martins, 1931
 

 

 

Poesias Eternas

Sonho

Na Mão de Deus

O Palácio da Ventura

 

 

 

 

 

 

 

Sonho

 

Sonhei - nem sempre o sonho é coisa vã -

Que um vento me levava arrebatado,

Através desse espaço constelado

Onde uma aurora eterna ri louçã...

 

As estrelas, que guardam a manhã,

Ao verem-me passar triste e calado,

Olhavam-me e diziam com cuidado:

Onde está, pobre amigo, a nossa irmã?

 

Mas eu baixava os olhos, receoso

Que traíssem as grandes mágoas minhas,

E passava furtivo e silencioso,

 

Nem ousava contar-lhes, às estrelas,

Contar às tuas puras irmãzinhas

Quanto és falsa, meu bem, e indigna delas!

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Na mão de Deus

À Exma. Sra. D. Vitória de O. M.

 

Na mão de Deus, na sua mão direita,

Descansou afinal meu coração.

Do palácio encantado da Ilusão

Desci a passo e passo a escada estreita.

 

Como as flores mortais, com que se enfeita

A ignorância infantil, despojo vão,

Depus do Ideal e da Paíxão

A forma transitória e imperfeita.

 

Como criança, em lôbrega jornada,

Que a mãe leva no colho agasalhada

E atravessa, sorrindo vagamente,

 

Selvas, mares, areias do deserto...

Dorme o teu sono, coração liberto,

Dorme na mão de Deus eternamente!

 

LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 302

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O Palácio da Ventura

 

Sonho que sou um cavaleiro andante.

Por desertos, por sóis, por noite escura,

Paladino do amor, busco anelante

O palácio encantado da Ventura!

 

Mas já desmaio, exausto e vacilante,

Quebrada a espada já, rota a armadura...

E eis que de súbito o avisto, fulgurante

Na sua pompa e aérea formusura!

 

Com grandes golpes bato à porta e brado:

Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...

Abri-vos, portas d'ouro, ante maus ais!

 

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...

Mas dentro encontro só, cheio de dor,

Silêncio e escuridão - e nada mais!

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