ANTERO
DE QUENTAL
Biografia 1842-1891 Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, São Miguel, em 1842 e suicidou-se nessa mesma cidade em 1891. Frequentou a Universidade de Coimbra tendo pertencido à Geração de 70. Participou, ainda, nas famosas Conferências do Casino. Os Sonetos são a sua obra poética de maior relevo.
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Poesias Eternas |
Sonhei - nem sempre o
sonho é coisa vã -
Que um vento me levava
arrebatado,
Através desse espaço
constelado
Onde uma aurora eterna
ri louçã...
As estrelas, que
guardam a manhã,
Ao verem-me passar
triste e calado,
Olhavam-me e diziam
com cuidado:
Onde está, pobre
amigo, a nossa irmã?
Mas eu baixava os
olhos, receoso
Que traíssem as
grandes mágoas minhas,
E passava furtivo e
silencioso,
Nem ousava
contar-lhes, às estrelas,
Contar às tuas puras
irmãzinhas
Quanto és falsa, meu
bem, e indigna delas!
À Exma. Sra. D. Vitória de O. M.
Na mão de Deus, na
sua mão direita,
Descansou afinal meu
coração.
Do palácio encantado
da Ilusão
Desci a passo e passo
a escada estreita.
Como as flores
mortais, com que se enfeita
A ignorância
infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paíxão
A forma transitória e
imperfeita.
Como criança, em lôbrega
jornada,
Que a mãe leva no
colho agasalhada
E atravessa, sorrindo
vagamente,
Selvas, mares, areias
do deserto...
Dorme o teu sono, coração
liberto,
Dorme na mão de Deus
eternamente!
LÍRICAS
PORTUGUESAS,
PORTUGÁLIA EDITORA, P. 302
Sonho que sou um
cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis,
por noite escura,
Paladino do amor,
busco anelante
O palácio encantado
da Ventura!
Mas já desmaio,
exausto e vacilante,
Quebrada a espada já,
rota a armadura...
E eis que de súbito o
avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea
formusura!
Com grandes golpes
bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o
Deserdado...
Abri-vos, portas
d'ouro, ante maus ais!
Abrem-se as portas
d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só,
cheio de dor,
Silêncio e escuridão
- e nada mais!
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.