A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ADOLFO CASAIS MONTEIRO

Biografia

1908-1972

Portugal Portugal

Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto, em 1908 e faleceu em S. Paulo, em 1972.

Formado em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras do Porto, Casais Monteiro foi professor do ensino secundário, tendo, por razões políticas sido demitido. A partir de 1954, data em que se exilou no Brasil, foi professor universitário no Rio de Janeiro, e na Faculdade de Letras de Araraquara, em São Paulo, onde leccionou literatura portuguesa.

A obra de Casais Monteiro estende-se principalmente pela poesia e ensaio, tendo apenas publicado uma obra de ficção, intitulada Adolescentes.

Foi diretor da revista Presença e a sua primeira obra poética datada de 1929, intitula-se Confusão. A obra de Casais Monteiro é especialmente significativa a nível do ensaio, tendo publicado em 1959, A Poesia da Presença, em 1964, O Romance, em 1965, A Palavra Essencial e em 1977 A Poesia Portuguesa Contemporânea.

 

Obra:

Ficção
Adolescentes, 1945
 

Poesia
Confusão , 1929
Poemas do Tempo Incerto, 1934
Sempre e Sem Fim, 1937
Canto da Nossa Agonia, 1942
Noite Aberta aos Quatro Ventos , 1943
Versos, 1944
Europa, 1946
Vôo sem Pássaro Dentro, 1954
A Poesia da «Presença» , 1959
Poesias Escolhidas, 1960
Poesias Completas, 1969
 


Considerações Pessoais, 1933
De Pés Fincados na Terra, 1941
O Romance e Seus Problemas, 1950
Estudos Sobre a Poesia de Fernando Pessoa, 1958
Fernando Pessoa e a Crítica, 1958
A Poesia da Presença, 1959
O Romance , 1964
A Palavra Essencial , 1965
A Poesia da Presença, 1972
A Poesia Portuguesa Contemporânea, 1977
 

 

 

Poesias Eternas

Castelos Tombados

A Palavra Impossível

Ode Ao Tejo e À Memória De Álvaro De Campos

Poeta

Vem Vento, Varre!

 

 

 

 

 

Castelos Tombados

 

Altos castelos tombados

De sonhos desiludidos

Arquitecturas tamanhas

Tecidas por mãos estranhas

Juncam o chão.

Nasce outro dia

Sobre as ruínas de há pouco.

E no tempo

Essas ruínas tão grandes

De sonhos tão desmedidos

Fazem apenas figura

Dum grão de areia sem peso

Leve ao acaso do vento...

 

CONFUSÃO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 336

 

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A Palavra Impossível

 

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim

A vida que não se troca por palavras.

Deram-mo para eu guardar dentro de mim

As vozes que só em mim são verdadeiras.

Deram-mo para eu guardar dentro de mim

A impossível palavra da verdade.

 

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,

Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,

Para eu guardar dentro de mim,

Para eu ignorar dentro de mim

A única palavra sem disfarce -

A Palavra que nunca se profere.

 

NOITE ABERTA AOS QUATRO VENTOS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 339

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Vem Vento, Varre!

 

Vem vento varre

Sonhos e mortos.

Vem vento, varre

Medos e culpas.

Quer seja dia

Quer faça treva,

Varre sem pena,

Leva adiante

Paz e sossego,

Leva contigo

Nocturnas preces,

Presságios fúnebres,

Pávidos rostos

Só cobardia.

 

Que fique apenas

Erecto e duro

O tronco estreme

Da raiz funda.

Leva a doçura,

Se for preciso:

Ao canto fundo

Basta o que basta.

 

Vem vento, varre!

 

 

NOITE ABERTA AOS QUATRO VENTOS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 340

 

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Poeta

 

Poeta: uma criança em face do papel.

Poema: os jogos inocentes,

invenções de menino aborrecido e só.

A pena joga com palavras ocas,

atira-as ao ar a ver se ganha o jogo;

os dados caem: são o poema. Ganhou.

 

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Ode Ao Tejo E À Memória De Álvaro De Campos

 

E aqui estou eu,

ausente diante desta mesa —

e ali fora o Tejo.

Entrei sem lhe dar um só olhar.

Passei e não me lembrei de voltar a cabeça,

e saudá-lo deste canto da praça:

"Olá, Tejo! Aqui estou eu outra vez!"

Não, não olhei.

Só depois que a sombra de Álvaro de Campos se sentou a meu lado

me lembrei que estavas aí, Tejo.

 

 

Passei e não te vi.

Passei e vim fechar-me dentro das quatro paredes, Tejo!

Não veio nenhum criado dizer-me se era esta a mesa em que Fernando Pessoa se sentava contigo e os outros invisíveis à sua volta,

inventando vidas que não queria ter.

Eles ignoram-no como eu te ignorei agora, Tejo.

 

 

Tudo são desconhecidos, tudo é ausência no mundo,

tudo indiferença e falta de resposta.

Arrastas a tua massa enorme como um cortejo de glória, e mesmo eu que sou poeta passo a teu lado de olhos fechados,

Tejo que não és da minha infância,

mas que estás dentro de mim como uma presença indispensável,

majestade sem par nos monumentos dos homens,

imagem muito minha do eterno,

porque és real e tens forma, vida, ímpeto,

porque tens vida, sobretudo,

meu Tejo sem corvetas nem memórias do passado...

Eu que me esqueci de te olhar.

 

 

in "Poesia Portuguesa contemporânea" , org. Carlos Nejar ,1982



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