A POESIA ETERNA

 

Por Marco Dias

 

SIMEÃO CACHAMBA

Biografia

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Poesias Eternas

 

Xicalamidade

 

Xirico

 

 

 



                    Xikalamidade

    Se um dia me viste a vagar as ruas da cidade
    (qual molweni atribulado na sua vagabundagem)
    o corpo constelado de remendos, quase seminu
    todavia por todos poros respirando dignidade

    hás-de me ver hoje envolto em nova embalagem
    caso cruze denovamente a mesma esquina com tu
    Não me pergunte o raio por que deixava eu esta
    indumentária envelhecer lá bem no fundo do baú

    Um pouco de bom-senso e apenas dois dedos de testa
    e saberás que ninguém grama de andar com o corpo nu
    Se antes de minhas foram alguém que eu desconheço
    estas < jeans > coçadas que ao meu corpo se ajustam bem
    como se feitas por encomenda, com as medidas que eu meço
    é porque em estado natural sempre iguais são os homens

                                            polana/85

                       Xirico

    domesticadas asas estrebucham
    o ancestral sonho sitiado que
    a exiguidade geométrica da gaiola calca
    enquanto ouvimos rádio na sala de estar

    dura um instante infinitesimal a pausa do locutor
    e nesse vazio
            breve
            oportuno
            subversivo o pássaro entoa as cores do arco-íris
    os sons fluem em cascata através dos arames
    e estacam na sala
    - vá tu saber se o bicho está triste ou alegre"

XIKALAMIDADE:  Xipamanine - mercado onde se vende grande quantidade de
               Calamidade - roupas doadas para os países do terceiro
                            mundo, e que neste são comercializadas
MOLWENI: rapaz da rua
XIRICO: pássaro e marca de transístor muito popular


 

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