A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

SEBASTIÃO ALBA

Biografia

 

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Poesias Eternas

Na sua primordial inocência...

Trecho da Praia

  A Pomba para o Cheina

 

 

 

 

 

 

 

Trecho da Praia

 

Como por um ralo atrás da pupila,

vêem-se agir:

nada divide o caranguejo, dividindo

os lodos em seu sulco,

e também suas pinças se amotinam

à passagem, com sombra,

duma ave marinha...

 

E antes da chegada ascendente do mar,

ou que alguém module a voz

pela que da nuvem soou

no paraíso, amam-se na areia.

Enquanto do largo

o halo dum navio nocturno

se expande e irisa em seu redor.

 

A Noite Dividida

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Na sua primordial inocência

a poesia deixar-me-á da ternura

só o que é defensável

 

e à margem do papel em que escrevi

as cidades e os campos

através dos quais me acenou

 

apartará do meu paladar

o sabor do sagrado

com que ainda a nomeie

 

já não a buscarei nos ensaios que cerco lhe moviam!

e nos ideais por que alheada

roçagou

 

que da janela eu não deslinde

de um cão em paz

a visagem ancestral

e a minha emoção seja enfim sedentária

 

e recém-chegada a noite finde

sem dar acordo de si.

 

A Noite Dividida

 


A pomba para o cheina

Pontos de vista
entrecruzam as balas
e nós ensaiamos a pomba
desenhando-a encurvando-lhe
o dorso antes do voo
largando-a no prisma puro
dos olhares da multidão
Logo uma estrela fugaz
se lhe cola ao bico
Rodopiará no céu entre colunas
colossais de cogumelos
e sóis que a inflectem
mas bem aninhada no oco
habitáculo de penas
com a chave em nossa mão.


Sebastião Alba no livro "A noite dividida", Edições 70, Lisboa 1981
 

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