MÁRIO
SAA
Biografia
|
Poesias Eternas
|
Quem muitas mulheres
tiver,
em vez de uma amada
esposa,
mais se afirma e se
repousa
pera amar sua mulher;
quem isto não
entender...
em cousas d'amor não
ousa,
em cousas d'amor não
quer!
Quantas mais, mais se
descansa,
mais a gente serve a
todas;
quantas mais forem as
bodas,
quantos mais os pares
da dança,
menos a dança nos
cansa
o gosto d'andar nas
rodas.
Que quantas mais, mais
detido
a cada uma per si;
nem cansa tanto o que
vi,
nem fica o gosto
partido;
ao contrário, é
acrescido
a cada uma per si!
No paladar de mudar
mais se sente o gosto
agudo:
que amar nada ou amar
tudo
é estar pronto a
muito amar;
o enjoo vem de não
estar
a par do nada e do
tudo.
Mais facilmente se
chega
pera muitas que pera
uma;
e a razão é porque,
em suma,
se esta razão me não
cega,
quem quer que muitas
adrega
é cono tendo...
nenhuma!
Com muitas, descanso
vem,
faz o desejo
acrescido:
que é o mais
apetecido
aquilo que se não
tem;
e o apetite é o bem;
e em saciá-lo é
perdido.
Também a mulher que
tem
seu marido repartido
é mais gostosa do bem
que advém de seu
marido!
Tão gostosa e
recolhida,
tão pronta e tão
conformada,
quanto o gosto é não
ter nada;
porque o gosto é ser
servida
e não o estar
contentada.
O gosto é cousa
corrente,
e quem o tem já não
sente
o gosto dessa corrida,
que tê-lo, é
cousa... jazente...
que tê-lo, é
cousa... perdida!
Ora, pois, nesta
jornada
não vi nada mais de
amar
que ter muito por
chegar
e cousa alguma
chegada;
não vi nada mais de
ter...
que ter muito que
perder...
e cousa alguma
ganhada!
In
Cancioneiro do Salão dos Independentes - LÍRICAS
PORTUGUESAS - PORTUGÁLIA
EDITORA, 3ª SÉRIE, PÁG. 119
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.