A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

LUÍS VEIGA LEITÃO

Biografia

 

Poesias Eternas

A Criança 

mais que a linha...

Manhã

Ouço a Volta de Uma Chave

A Uma Bicicleta

 

 

 

 

 

 

 

 

A Criança

 

Aberta, discreta

ou desatenta

é como o poeta:

não mente, inventa

 

Rosto por Dentro, Edições Afrontamento 

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mais que a linha...

 

Mais que a linha e a forma

é o fluxo dos teus dedos

- um fio de água secreta

que muda a forma e o lugar

como a voz do poeta

 

Rosto por Dentro, Edições Afrontamento 

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Ouço a Volta de Uma Chave

 

Ouço a volta de uma chave

e um deslizar de mãos por todas as sombras.

Ardo em gelo, inteiramente nu:

 

Que morte me espera nesta hora da noite?

Neste silêncio cru?

 

Rosto por Dentro, Edições Afrontamento 

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Manhã

 

- Bom dia. Diz-me um guarda.

Eu não ouço... apenas olho

das chaves o grande molho

parindo um riso na farda.

 

Vómito insuportável de ironia.

Bom dia, porquê bom dia?

 

Olhe, senhor guarda,

(no fundo a minha boca rugia)

aqui é noite, ninguém mora,

deite esse bom dia lá fora

porque lá fora é que é dia!

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A Uma Bicicleta Desenhada na Cela

 

Nesta parede que me veste

da cabeça aos pés, inteira,

bem hajas, companheira,

as viagens que me deste.

 

Aqui,

onde o dia é mal nascido,

jamais me cansou

o rumo que deixou

o lápis proibido...

 

Bem haja a mão que te criou!

 

Olhos montados no teu selim

pedalei, atravessei

e viajei

para além de mim.

 

Noite de Pedra, Líricas Portuguesas, Portugália Editora, p. 222-223

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