A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA

Biografia

 

Poesias Eternas

Elogio da Solidão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elogio da Solidão

 

Uma casa para estrear e descobrir

em quantas salas se acomoda a solidão.

Cozinhou o jantar e come atentamente

como todos quantos dividem a comida em silêncio:

o náufrago, o mendigo, o oleiro na lancheira.

 

Coze o seu barro, um jeito de partir o pão

que deve ao tempo uma lentidão coalhada.

O ruído do vizinho não o incomoda.

Nenhuma fala ou resíduo humano leveda

uma página ao acaso. Pode decidir beber mais vinho

ou inaugurar a leitura de outro livro.

Mesmo sair para beber café e mastigar o frio.

 

No pasto, a chuva rega a placidez do boi;

abana a cabeça, fumegam as narinas,

desenha-se num fundo de pinhal que o vento

castiga; na caruna molhada pressente-se

o rumor de um cão absorto na ilusão

do que procura. Copisas mínimas, irrisórias,

vão salvar o resto da noite de presumir felicidade.

 

Lá fora a cidade está cercada na convicção

das suas vidas perdoáveis, mercando

um alimento longamente dispensável

- a respiração em vitualhas e sarcasmos,

a pobreza irresignável e irresolúvel,

o cansaço de não estar só e não querer estar.

 

Por Alguns Dias

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