A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

JORGE BARBOSA

Biografia

 

Poesias Eternas

 Ilha

Momento

 

 

 

   

 

 

Ilha

 

Quando o barco alemão vem à ilha carregar sal

há um sobressalto íntimo de contentamento

na gente que fica a ver de terra.

 

À varanda da antiga casa do lago

olhos curiosos em direcção ao mar

atravessam as lentes baças

do velho binóculo do tempo dos piratas.

 

Toma certo ar garboso e oficial

com a bandeira nacional à popa

o escaler a remos

ao partir apressado ao vapor

com as autoridades todas do porto

que leva uma grande pasta sob o braço...

 

Compram-se a bordo novidades

ouvem-se notícias de longe...

bebe-se

cerveja gelada...

 

O barco parte depois

e a Povoação resignada

retoma a monotonia habitual...

 

...à noitinha

à hora tagarela de em seguida ao jantar

os homens reúnem-se na rua principal

comentando as ocorrências do dia.

 

Vem então à baila aquela passageira de boca pintada

que seguia para o Congo Belga...

E da evocação da mulher estrangeira

ficou um sonho parado

em cada um...

 

 

AMBIENTE, LÍRICAS PORTUGUESAS, 3ª SÉRIE, PORTUGÁLIA EDITORA, PAG. 124

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Momento

 

Quem aqui não sentiu

esta nossa

fininha melancolia?

 

Não a do tédio

desesperante e doentia.

Não a nostálgica

nem a cismadora.

 

Esta nossa

fininha melancolia

que vem não sei de onde.

Um pouco talvez

das horas solitárias

passando sobre a ilha

ou da música

do mar defronte

entoando

uma canção rumorosa

musicada com os ecos do mundo.

 

Quem aqui não sentiu

esta nossa

fininha melancolia?

a que suspende inesperadamente

um riso começado

e deixa um travor de repente

no meio da nossa alegria

dentro do nosso coração,

a que traz à nossa conversa

qualquer palavra triste sem motivo?

 

Melancolia que não existe quase

porque é um instante apenas

um momento qualquer.

 

CADERNO DE UM ILHÉU, LÍRICAS PORTUGUESAS, 3ª SÉRIE, PORTUGÁLIA EDITORA, PAG. 131

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