JOÃO
SARAIVA
Biografia
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Poesias Eternas
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Na humilde cela, onde em
perfume casto
O luar esbate, merencório
e brando,
Vai-lhe fugir o espírito,
beijando
A negra cruz do seu rosário
gasto...
Como num sonho tumular,
nefasto,
Corvos que passam pela
noite, em bando,
Trazem-lhe a morte lívida,
cortando
O fundo azul silencioso e
vasto...
Em prata líquida o luar
escorre
Pelo fio das trémulas
espadas
Que esgrime ao vento o
canavial do rio...
E, quando o brilho das
estrelas morre,
O monge cerra as pálpebras
molhadas,
Levando aos lábios o rosário
frio...
SERENATAS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 2ª SÉRIE, PAG.
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Tão longe como estás,
ó meu desejo,
Quando a noite gelada se
avizinha,
Se tu és Dor, ao pé de
mim te vejo...
Trajas um manto negro de
rainha
E, silenciosa como a
sombra, choras
Pousando sempre a tua mão
na minha!
Vens de tão longe nas
caladas horas!
Se tu és Pranto, esse
leal amigo,
É nos meus olhos que de
noite moras...
Tens neste amargo peito
um doce abrigo!
Se estás longe de mim e
eu não te alcanço,
Não és Pranto nem Dor!
Mas, se és Descanso,
Onde te ocultas que não
dou contigo?
LÍRICAS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 2ª SÉRIE, PAG.
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Deram-lhe a cruz de S.
Tiago
Em vez de c'roa de louros
Por esta razão simpática:
Porque se atira à gramática
Como S. Tiago aos mouros.
SÁTIRAS, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 2ª SÉRIE, PAG,
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"Sou alta" -
diz a Amizade.
"Sou profundo"
- diz o Amor.
E lembram bem, na
verdade,
Montanha e vale, ao sol-pôr,
Pois antes que o Sol
resvale
Ao pélago, onde se
banha,
Já dorme em sombras o
vale
E há ainda sol na
montanha.
SOL-POSTO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 2ª SÉRIE, PAG.
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A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.