JOAM AIRAS
DE SANTIAGO
Biografia 1230-1265
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Poesias Eternas
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Pelo souto de Crexente
ua pastor vi andar
muit’alongada de gente
alçando voz a cantar,
apertando-se na saia
quando saía la raia
do sol nas ribas do Sar.
E as aves que voavam,
quando saía l’alvor,
todas d’amores cantavam
pelos ramos d’arredor,
mais nom sei tal qu’i ‘stevesse
que em al cuidar podesse
senom todo em amor.
Ali ‘stivi eu mui quedo,
quis falar e nom ousei,
empero dix’a gram medo:
- Mia senhor, falar-vos-ei
um pouco, se mi ascuitardes,
e ir-m’ei quando mandardes,
mais aqui nom estarei.
- Senhor, por Santa Maria,
nom estedes mais aqui,
mais ide-vos vossa via,
faredes mesura i,
ca os que aqui chegarem,
pois que vos aqui acharem,
bem diram que mais ouv’i.
Amei-vos sempr’, amigo, e fiz-vos lealdade;
se preguntar quiserdes em vossa puridade,
saberedes, amigo, que vos digo verdade,
ou se falar ouverdes com algum maldizente
e vos quiser, amigo, fazer al entendente,
dizede-lhe que mente, dizede-lhe que mente.
Vocabulário:
fazer al entendente: fazer entender outra coisa.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.