A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

GOULART NOGUEIRA

Biografia

 

Poesias Eternas

Ganimedes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ganimedes

 

Cordeiro de alvorada, em seu cabelo,

Adormecido, nítido, encostado

À testa de montanha lisa e gelo.

 

O gelo se desfaz, de manso, em neve

No mar do rosto, com corais na face,

Corais na boca entreaberta e leve,

 

E tomba, em gotículas de orvalho,

Nos ombros torneados e brilhantes,

Qual folha nova a despontar do galho.

 

*

 

Nos olhos, e esperando um prado extenso,

Duas gazelas líquidas e azuis

Fingem o acenar branco dum lenço.

 

Um lenço, pelo corpo a desfolhar-se

Em rosas-chá, em mármore e em quentura,

No púbis, nuvem de oiro, vai dobrar-se.

 

Aquela juventude ainda é pura.

 

*

 

Quem tem a manhã na fronte

E relâmpagos na mão imperial,

Que tem na boca límpida uma fonte

E dois robles no porte de imortal,

Com sua imagem de águia à terra desce

E rouba o pastor grácil que adolesce.

 

*

 

Pastor humano, hoje é pastor divino.

Loiro,

Loiro e belo rapaz maravilhoso,

Elbelto como um hino,

Tão pleno como um arco impetuoso,

Em suas mãos de Via-Láctea

Serve aos deuses a Vida e o alimento,

Licor de luz e de rubis doirados.

 

E as suas mãos de Via-Láctea

São o perfume e o vento

Do seu corpo de valados.

 

*

 

Paisagem branda ao sol nascente,

Um olhar dele o representa.

É sempre belo e adolescente:

Aos próprios deuses alimenta.

 

E porque tem, como a cereja,

Formas alegres e completas,

Tal como Zeus lhe quer e o beija,

Amam-no todos os Poetas.

 

Távola Redonda, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 3ª SÉRIE, PAG. 453

topo

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1