FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA
Biografia
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Poesias Eternas |
Alma, que fica por fazer desde hoje
na vida mais, se a vã minha esperança,
que sempre sigo, que me sempre foge,
já quanto a vista alcança a não alcança?
Fortuna que fará? Roube, despoje,
prometa doutra parte em abastança,
que tem com que me alegre, ou com que anoje?
Tanto tempo há que dei mão à balança.
Chorei dias e noites, chorei anos,
e fui ouvido ao longe, pelo escuro
gritando, acrescentar muito em meus danos.
Agora, que farei? Por amor juro
de tornar a cantar fora de enganos
e, por muito do mal, posto em seguro.
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 155
Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.
(...)
Que meio espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho inimigo de mim?
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.