A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ENRIQUE DE RESENDE

Biografia

    

Poesias Eternas

Da Felicidade

Da Ilusão

Outono

O Cofre de Charão

Saudade

Ingenuidade

 

 

 

 



 

 

 

Da Felicidade

 

Estes tratados de filosofia

hão-de pouco valer-te, meu amigo.

Enganador é o mundo... Na verdade,

feliz é o que, semeando o próprio trigo,

confia no ouro de futuras messes.

Na vã procura da felicidade,

constrói, tu próprio, uma filosofia

diferente das outras que conheces.

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Da Ilusão

 

Longe do humano olhar, os fúlgidos diamantes

rolam no torvelinho anónimo das águas,

sem que ninguém os veja, ou mesmo lhes pressinta

o mirífico fulgor.

Bem ao contrário,

lantejoulas da ganga, as falsas pedrarias

refulgem como sóis, a deslumbrar o mundo,

sem  que  ninguém  lhes  saiba, ou  mesmo  lhes

                                    pressinta

o brilho de ouropel    que é todo o seu valor.

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Outono

 

Morre a canção das folhas num sussuro.
Pelos silêncios da alameda
vagam humanas sombras infelizes.
 

A água dorme, tranqüila. Já não canta.
— Solitária,
uma pernalta espia, longamente, 
a água dormente
dos chafarizes.

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O Cofre De Charão

 

 

Se um dia, acaso, abrires este cofre,

guarda os meus versos — a útima lembrança

do nosso amor, daquela história antiga,

que ainda os olhos me traz em pranto imersos.

Guarda-os. São teus. Amortalhado neles,

há um coração que pulsa, um coração que sofre,

encerrado no fundo deste cofre.

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Saudade

 

Num  dia  assim, de  inverno,  um  dia assim,  de

                                                          de chuva,

há sempre um vulto esguio a olhar-me da vidraça.

Fico então a evocar, viúvo o peito, a alma viúva,

uns farrapos de sonho, uns longes de fumaça.

 

Quando chove, num dia assim de inverno, a chuva

é a Saudade que volta, a olhar-me da vidraça.

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Ingenuidade

 

Deu-me um fetiche.

E depois me falou, com toda a ingenuidade:

 

"traze-o contigo, assim, como se fosse

a jóia mesma da felicidade.

Há de livrar-te, sempre, meu amigo,

dos maus olhados,

dos teus revezes, múltiplos escolhos".

 

E eu meditei, comigo:

Ingênua! Inda acredita no fetiche!

— Se foi esse fetiche que me trouxe

o mau olhado dos seus próprios olhos...

 

 

(Obras Completas/1977)

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