A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

DIOGO BERNARDES

Biografia

1530-1594/5

 

Poesias Eternas

Soneto CXVII

Soneto LXXXII

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Soneto CXVII

 

Não corre o Lima como de primeiro,

Alegre, e claro; antes triste chora,

Em vez de brãda frauta, ouvindo agora

Do concavo latão o som guerreiro.

 

Temendo a solta mão do estrangeiro,

Não ousãm as Napeas sair fora;

Desmaia o que mais perto delle mora,

Suspira o lavrador, geme o vaqueiro:

 

Dos fruitos, que com seu trabalho duro

Colheram pera si da terra dura,

Lhes fazem sostentar quem os abrasa:

 

E não contentes disto (ah desventura!)

O soldado cruel, livre, e seguro,

Da honra quer susar como da casa.

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Soneto LXXXII

 

Quem por ouro, que não descansa, cansa,

Passando o mar, e rompendo a terra, erra,

Porque da terra desenterra terra,

Sem ver cobiça, que foi mansa, mansa.

 

E tanto sem fazer mudança, dança

Que de nada, que não s'aferra, ferra,

E assi nada, que desencerra, cerra,

Porq'em fim nada em balança lança.

 

Quem anda neste presuposto posto,

Atente bem em que demanda anda,

Primeiro que dele seja a vida ida,

 

E se pretende sem desgosto gosto,

Cumpra com quem, nunca desmanda, manda,

Porque a tal vida he devida vida.

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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