DIOGO BERNARDES
Biografia 1530-1594/5
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Poesias Eternas
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Não corre o Lima como de primeiro,
Alegre, e claro; antes triste chora,
Em vez de brãda frauta, ouvindo agora
Do concavo latão o som guerreiro.
Temendo a solta mão do estrangeiro,
Não ousãm as Napeas sair fora;
Desmaia o que mais perto delle mora,
Suspira o lavrador, geme o vaqueiro:
Dos fruitos, que com seu trabalho duro
Colheram pera si da terra dura,
Lhes fazem sostentar quem os abrasa:
E não contentes disto (ah desventura!)
O soldado cruel, livre, e seguro,
Da honra quer susar como da casa.
Quem por ouro, que não descansa, cansa,
Passando o mar, e rompendo a terra, erra,
Porque da terra desenterra terra,
Sem ver cobiça, que foi mansa, mansa.
E tanto sem fazer mudança, dança
Que de nada, que não s'aferra, ferra,
E assi nada, que desencerra, cerra,
Porq'em fim nada em balança lança.
Quem anda neste presuposto posto,
Atente bem em que demanda anda,
Primeiro que dele seja a vida ida,
E se pretende sem desgosto gosto,
Cumpra com quem, nunca desmanda, manda,
Porque a tal vida he devida vida.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.