A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

CURVO SEMEDO  

Biografia

 

Poesias Eternas

O Velho, o Rapaz e o Burro

A Lebre e a Tartaruga

 

 

 

 

 

 

   

 

O Velho, o Rapaz e o Burro

 

O Mundo ralha de tudo,

Tenha ou não tenha razão,

Quero contar uma história

Em prova desta asserção.

Partia um velho campónio

Do seu monte ao povoado,

Levava um neto que tinha

No seu burrinho montado:

Encontra uns homens que dizem:

"Olha aquela que tal é!

Montado o rapaz que é forte,

E o velho trôpego a pé."

"Tapemos a boca ao mundo",

O velho disse: "Rapaz,

Desde do burro, qu'eu monto,

E vem caminhando atrás."

Monta-se, mas dizer ouve:

"Que patetice tão rata!

O tamanhão de burrinho,

E o pobre pequeno à pata."

"Eu me apeio", dis prudente

O velho de boa-fé,

"Vá o burro sem carrego,

E vamos ambos a pé."

Apeiam-se, e outros lhe dizem:

"Toleirões, calcando lama!

De que lhes serve o burrinho?

Dormem com ele na cama?"

"Rapaz", diz o bom do velho,

"Se de irmos a pé murmuram,

Ambos no burro montemos,

A ver se inda nos censuram".

Montam, mas ouvem de um lado:

"Apeiem-se, almas de breu,

Querem matar o burrinho?

Aposto que não é seu."

"Vamos ao chão", diz o velho,

"Já não sei qu'ei-de fazer!

O mundo está de tal sorte,

Que se não pode entender.

É mau se monto no burro,

Se o rapaz monta, mau é,

Se ambos montamos, é mau,

E é mau se vamos a pé:

De tudo me têm ralhado,

Agora que mais me resta?

Peguemos no burro às costas,

Façamos inda mais esta."

Pegam no burro: o bom velho

Pelas mãos o ergue do chão,

Pega-lhe o rapaz nas pernas,

E assim caminhando vão.

"Olhem dois loucos varridos!",

Ouvem com grande sussuro,

"Fazendo mundo às avessas,

Tornados burros do burro!"

O velho então pára e exclama:

"Do qu'observo me confundo!

Por mais qu'a gente se mate

Nunca tapa a boca ao mundo.

Rapaz, vamos como dantes,

Sirvam-nos estas lições;

É mais que tolo quem dá

Ao mundo satisfações."

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A Lebre e a Tartaruga

 

 

 

 

«Apostemos, disse à lebre

A tartaruga matreira,

Que eu chego primeiro ao alvo

Do que tu, que és tão ligeira!»

 

Dado o sinal da partida,

Estando as duas a par,

A tartaruga começa

Lentamente a caminhar.

 

A lebre tendo vergonha

De correr diante dela,

Tratando uma tal vitória

De peta ou de bagatela,

 

Deita-se, e dorme o seu pouco;

Ergue-se, e põe-se a observar

De que parte corre o vento,

E depois entra a pastar;

 

Eis deita uma vista de olhos

Sobre a caminhante sorna,

Inda a vê longe da meta,

E a pastar de novo torna.

 

Olha; e depois que a vê perto,

Começa a sua carreira;

Mas então apressa os passos

A tartaruga matreira.

 

À meta chega primeiro,

Apanha o prémio apressada,

Pregando à lebre vencida

Uma grande surriada.

 

Não basta só haver posses

Para obter o que intentamos;

É preciso pôr-lhe os meios,

Quando não, atrás ficamos.

 

O contendor não desprezes

Por fraco, se te investir;

Porque um anão acordado

Mata um gigante a dormir.

 

FÁBULAS

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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