A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ONÉSIMO SILVEIRA

Biografia

1935

 Cabo Verde Cabo Verde

(Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, 10/2/1935)
 

Poesias Eternas

As águas

Quadro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As Águas

 

A chuva regressou pela boca da noite

Da sua grande caminhada

Qual virgem prostituida

Lançou-se desesperada

Nos braços famintos

Das árvores ressequidas!

 

(Nos braços famintos das árvores

Que eram os braços famintos dos homens...)

 

Derramou-se sobre as chagas da terra

E pingou das frestas

Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas

E escorreu do dorso descarnado dos montes!

 

Desceu pela noite a serenar

A louca, a vagabunda, a pérfida estrela do céu

Ate que ao olhar brando e calmo da manha

Num aceno farto de promessas

Ressurgiu a terra sarada

Ressumando a fartura e a vida!

 

Nos braços das árvores...

Nos braços dos homens...

 

(Hora grande, 1962)




QUADRO

Lá vem nho Cacai da ourela do mar
Acenando a sua desilusão
De todos os continentes!
Ele traz o peito afogado em maresias
E os olhos cansados da distancia das horas...

Lá vem nho Cacai
Com a boca amarga de sal
A boiar o seu corpo morto
Na calmaria da tarde!

Nho Cacai vem alimentar os seus filhos
Com histórias de sereias...
Com histórias das farturas das Ame'ricas...

Os seus filhos acreditam nas Américas
E sabem dormir com fome...

                     (Hora grande, 1962)
 

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