A POESIA ETERNA

 

Por Marco Dias

 

CORSINO FORTES

Biografia

1933

  Cabo Verde  Cabo Verde

  (Mindelo, S.Vicente, Cabo Verde, 1933)

 

 

 

Poesias Eternas

 

De Boca a Barlavento

De Boca Concêntrica


 

 

 

 


                      
             

 

DE BOCA A BARLAVENTO

                                I


Esta
     a minha mão de milho & marulho
Este
     o sól a gema E não
     o esboroar do osso na bigorna
                               E embora
O deserto abocanhe a minha carne de homem
E caranguejos devorem
             esta mão de semear
Há sempre
Pela artéria do meu sangue que g
                               o
                               t
                               e
                               j
                               a
                  De comarca em comarca
A árvore E o arbusto
Que arrastam
As vogais e os ditongos
            para dentro das violas


                                II


Poeta! todo o poema:
           geometria de sangue & fonema
Escuto Escuta

Um pilão fala
               árvores de fruto
                    ao meio do dia
E tambores
             erguem
                      na colina
             Um coração de terra batida
E lon longe
Do marulho á viola fria
             Reconheço o bemol
Da mão doméstica
                       Que solfeja

Mar & monção mar & matrimónio
Pão pedra palmo de terra
                     Pão & património


                      (Pão & fonema, 1974)
 


DE BOCA CONCENTRICA NA RODA DO SOL
 
 
Depois da hora zero
E da mensagem povo no tambor da ilha
Todas as coisas ficaram públicas na boca da república
As rochas gritaram árvores no peito das crianças
O sangue perto das raízes
E a seiva não longe do coração
 
E
 
Os homens que nasceram da estrela da manhã
Assim foram
        Árvore & Tambor pela alvorada
Plantar no lábio da tua porta
África
        mais uma espiga mais um livro mais uma roda
Que
Do coração da revolta
A Pátria que nasce
Toda a semente é fraternidade que sangra
 
                                        *
 
A espingarda que atinge o topo da colina
De cavilha & coronha
partida partidas
E dobra a espinha
como enxada entre duas ilhas
E fuma vigilante
o seu cachimbo de paz
Não é um mutilado de guerra
É raiz & esfera no seu tempo & modo
De pouca semente E muita luta.
 
  (in "Vozes poéticas da lusofonia", Sintra, 1999)
 
Abraços de Roma
Enzo
 

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