A POESIA ETERNA

 

Por Marco Dias

 

ARMÉNIO VIEIRA

Biografia

1941

  Cabo Verde  Cabo Verde

     (Ilha de Santiago, Cabo Verde, 29/1/1941)
 

 

 

Poesias Eternas

 

Isto é que fazem de nós

 

Mar

 

Ser Tigre

 

 

 

 

        


ISTO É QUE FAZEM DE NÓS

                                          Isto!
E perguntam-nos:
                                        - sois homens?
Respondemos:
                                        - animais de capoeira.
Dizem-nos:
                                        - bom dia.
Pensamos:
                                         lá fora...

Isto é que fazem de nós
quando nos inquirem:
                                          - estais vivos?
E em nós
as galinhas respondem:
                                           - dormimos.

 POEMA


Mar! Mar!
Mar! Mar!

Quem sentiu mar?

Não o mar azul
de caravelas ao largo
e marinheiros valentes

Não o mar de todos os ruídos
de ondas
que estalam na praia

Não o mar salgado
dos pássaros marinhos
de conchas
areias
e algas do mar

Mar!

Raiva-angústia
de revolta contida

Mar!

Siléncio-espuma
de lábios sangrados
e dentes partidos

Mar!
do não-repartido
e do sonho afrontado

Mar!

Quem sentiu mar?

                (1962)

SER TIGRE
 
 
O tigre ignora a liberdade do salto
é como se uma mola o compelisse a pular.
 
Entre o cio e a cópula
o tigre não ama.
 
Ele busca a fêmea
como quem procura comida.
 
Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.
 
Nenhuma voz lhe fala da morte.
O tigre, já velho, dorme e passa.
 
Ele é esquivo,
não há mãos que o tomem.
 
Não soa,
porque não respira.
 
É menos que embrião
abaixo do ovo,
infra-sémen.
 
Não tem forma,
é quase nada, parece morto.
 
Porém existe,
por isso espera.
 
Epopéia, canção de amor,
epigrama, ode moderna, epitáfio,
 
Ele será
quando for tempo disso.
 
 
  (in "Vozes poéticas da lusofonia", Sintra, 1999)
 

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