A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

TASSO DA SILVEIRA

Biografia 

1895-1968

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Nascido em 1895, na cidade de Curitiba/PR, Tasso da Silveira era filho do poeta simbolista paranaense Silveira Neto.
Foi jornalista, deputado, professor universitário no Rio de Janeiro e figura central do grupo Festa, que chegou a oferecer resistência e fez oposição ao espírito revolucionário modernista. Dedicou-se a escrever peças teatrais, como "As Mãos e o Espírito", críticas e ensaios, mas foi na poesia que conquistou lugar de destaque entre os primeiros modernistas brasileiros.
A revista Festa, lançada por ele em conjunto com outros colegas, reúne um grupo de poetas, pensadores, filósofos e escritores que formaram a chamada Corrente Espiritualista do Modernismo. Entre estes colegas que fizeram parte do grupo Festa, estiveram: 
Andrade Muricy, Adelino Magalhães, Cecília Meireles, Murilo Araújo, Plínio Salgado, Tristão de Ataíde e muitos outros nomes conhecidos das artes literárias da época.
Tasso da Silveira foi um defensor dos valores culturais, do pensamento provinciano, valores que segundo ele provêm das forças telúricas e da energia mental renovadora. Segundo as palavras do poeta, "a cidade cosmopolita consagra, é um foco de expansão, mas o que vem do cerne provinciano é que traz o rumor da beleza e é origem da emoção enaltecedora do ser humano."
Seu estilo é marcado pela simplicidade. Tasso lutou contra o ceticismo e o materialismo e buscou atingir com sua poesia uma pureza essencial.

Poesias Eternas

 

Festa (Manifesto)

Poema 17

 

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FESTA - Manifesto

Nós temos uma visão clara desta hora.
Sabemos que é de tumulto e incerteza.
E de confusão de valores.
E de vitória do arrivismo.
E de graves ameaças para o homem.
Mas sabemos, também, que não é esta a primeira hora de 
agonia e inquietude que a humanidade vive.
A humanidade dança a sua dança eterna num velho
ritmo em dois tempos.
Quando todas as forças interiores se equilibram, os 
gestos são luminosamente serenos.
Mas o que nesses gestos parecia um esplendor supremo
de beleza ou de verdade não era senão um momento
efêmero da Escalada.
Então exsurgem das profundezas do ser ímpetos bruscos
e imprevistos, que trazem a insatisfação,
a angústia, a febre, e quebram os compassos
harmoniosos, e fazem pensar, aos que se esqueceram de
Deus, que tudo está perdido,
- mas que são, em verdade, ondas desconhecidas de 
energia para a criação de um equilíbrio novo e de outra
mais alta eternidade...
Nós temos a compreensão nítida deste momento.
Deste momento no mundo e deste momento no Brasil.
Vemos, lá fora e aqui dentro, o rodopio dos sentimentos
em torvelinho trágico.
E as investidas reinvidicadoras
dos apetites que se disfarçam
e agora se desencadeiam em fúria.
E ouvimos o suspiro de alívio
da mediocridade finalmente desoprimida : 
da mediocridade que, aproveitando a sua voz em falsete, e
encheu o ar de gestos desarticulados, e proclamou-se 
vencedora,
na ingênua ilusão de que as barreiras que a continham
tombaram para sempre.
Mas vemos igualmente os espíritos legítimos no seu
posto imutável.
E apuramos o ouvido ao brado de alerta das sentinelas
perdidas.
E sentimos à flor do solo o frêmito das subterrâneas
correntes de força viva, que serão captadas pela
sabedoria divina na hora próxima das construções
admiráveis.
A arte é sempre a primeira que fala para anunciar o que virá.
E a arte deste momento é um canto de alegria,
uma reiniciação na esperança, uma promessa de
esplendor.
Deus, canta-a, porém, porque a percebe e compreende
em toda a sua múltipla beleza, em sua profundidade e
infinitude.
E por isto o seu canto é feito de inteligência e de instinto
(porque também deve ser total) e é feito de ritmos livres
elásticos e ágeis como músculos de atletas velozes e
altos como sutilíssimos pensamentos e sobretudo
palpitantes do triunfo interior que nasce das
adivinhações maravilhosas...
O artista voltou a Ter os olhos adolescentes e encantou-se
novamente com a Vida! Todos os homens o
acompanharão!


                        (Tasso da Silveira)

Neste texto destacam-se os seguintes aspectos do estilo e da obra de Tasso da Silveira :
•a inteligência se alia e se opõe a serviço da sensibilidade e da fé;
•a religiosidade alimenta o conceito espiritualista e a elevação moral dos textos;
•em sua poesia se encontram harmoniosamente a filosofia e a religião, o misticismo e a sensualidade;
•numa verdadeira tempestade mística o sentimento de eternidade o lança para um encontro com o absoluto.

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POEMA 17



Esquece o tempo. O tempo não existe.

Acende a chama às límpidas lanternas.

Nossas almas, a ansiar no mundo triste,

são de uma mesma idade: são eternas.



Se no meu rosto lês mortais cansaços,

é natural.A luta foi renhida:

caminhei tantos passos, tantos passos

para que te encontrasse em minha vida...



Não medites o tempo. Se muito antes

de ti cheguei, para a áspera, inclemente

sina de navegar por este mar,



foi para que tivesse olhos orantes,

e me purificasse longamente

na infinita aflição de te esparar... 

  

                        (Tasso da Silveira)

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