PAULO
LEMINSKI
Biografia
1944-1989
1944-
Nasce em Curitiba, Paraná, a 24 de agosto, Paulo Leminski Filho, filho de Paulo
Leminski e Áurea Pereira Mendes. 1958-
Foi para o mosteiro São Bento em São Paulo e ficou o ano inteiro. 1963-
Participa do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte-MG.
Casou com Neiva Maria de Souza e se separou em 1968. 1964-
Pubicação de poemas na revista INVENÇÃO em São Paulo, porta-voz da poesia
concreta paulista. 1965-Professor
de História e de Redação em cursos pré-vestibulares. 1966-
Classifica-se em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna,
promovido pelo jornal O Estado do Paraná. 1968/88-
Vive com a poeta Alice Ruiz, com a qual teve três filhos (Miguel Ângelo,
falecido aos 10 anos, Áurea Alice e Estrela.) 1969/70-
Mora no Rio de Janeiro. 1970/80-
Diretor de criação e redator de publicidade. 1973-
Morte do pai. 1975-
Publicação do CATATAU.(depois de 8 anos de elaboração). 1978-Morte
da mãe. 1980-São
Paulo- Colaboração no FOLHETIM e revista VEJA. 1984/86-Tradução
de John Fante, James Joyce, Yukio Mishima, John Lenon, Alfred Jarry e Samuel Beckett. 1986-
Publicação do livro Infanto-Juvenil GUERRA DENTRO DA GENTE. 1988-
Escreve o Jornal de Vanguarda na TV Bandeirantes, São Paulo. 1988/89-
Passa a viver com a cineasta Berenice Mendes. 07.06.89-
Morre em Curitiba - Paraná, de cirrose hepática. Muitos poemas de Leminski possuem a característica de poemas de poetas iniciantes. Ficou conhecido quando Curitiba, na fase do desenvolvimento "inventava" figuras importantes de sua terra, consagrando-as através da exaustiva mídia em favor não do artista, mas em prol da cidade.
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Poesias Eternas Viver De Noite Me Fez Senhor Do Fogo
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me caiu
ainda quente
na palma da mão
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou
tonto.
Ninguém tem nada com
isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu,
lembram letras no papel,
quando o poema me
anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o
que vê.
Eu escrevo apenas
tive
uma idéia brilhante
foi
como se eu olhasse
de
dentro de um diamante
e
meu olho ganhasse
mil
faces num só instante
basta
um instante
e
você tem amor bastante
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
pena
eu estar
só
de passagem
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
Paulo Leminski
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
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primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano
o que valia menos
passa a valer mais
quando desvaria
tudo que respira
conspira
Amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
Viver de noite me fez
senhor do fogo.
A vocês eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse eu mesmo carrego
ver
é dor
ouvir
é dor
ter
é dor
perder
é dor
só doer
não é dor
delícia
de experimentador
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento
II
Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma
esquina
mínima linha vazia,
a linha, uma vida
inteira,
palavra, palavra minha.
III
O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique
V
apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
VI
uma carta uma brasa através
por dentro do texto
nuvem cheia da minha
chuva
cruza o deserto por mim
a montanha caminha
o mar entre os dois
uma sílaba um soluço
um sim um não um ai
sinais dizendo nós
quando não estamos mais
IX
nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima
essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que
segure
vem de dentro
vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
AMOR BASTANTE quando eu vi você tive uma idéia brilhante foi como se eu olhasse de dentro de um diamante e meu olho ganhasse mil faces num só instante basta um instante e você tem amor bastante um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto (Paulo Leminski)
BEM NO FUNDO No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja que olhas pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas. (Paulo Leminski)
HAI CAI a estrela cadente me caiu ainda quente na palma da mão cortinas de seda o vento entra sem pedir licença (Paulo Leminski)
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.