A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

MAURO MOTA

Biografia

 

1911-1984

 

Brasil Brasil

Mauro Ramos da Mota e Albuquerque, jornalista, professor, poeta, cronista, ensaísta e memorialista, nasceu em Recife, Pernambuco, em 16 de agosto de 1911 e faleceu na mesma cidade, em 22 de novembro de 1984. Eleito em 08.01.1970 para a Cadeira nº 26, foi recebido em 27 de agosto de 1970. Como poeta, destacam-se suas  Elegias, publicadas em 1952. Nessa obra figura também o Boletim Sentimental da Guerra do Recife, um dos seus poemas mais conhecidos.

Obras:  Elegias (1952),  A Tecelã (1956), Os Epitáfios (1959), O Galo e o Cata-vento (1962) etc,  além de crônicas e ensaios.

 

Poesias Eternas

Tempo de Farmácia

Elegia Nº 10

O Galo e o Catavento

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tempo de Farmácia

 

 

As cores nos boiões, calomelanos,

o jacaré das rolhas, elixires,

os chás, o peixe da "Emulsão de Scott",

dietas, línguas de fora, chernoviz,

 

o xarope da tosse, a queda, o galo,

o braço na tipóia, a camomila,

a letra do Doutor, frascos e rótulos,

o medo de injeções e bisturis.

 

O banco das conversas, as pastilhas

de malva e de hortelã, o mel de abelha,

a cobra na garrafa, o almofariz,

 

o termômetro, a febre dos meninos,

o tempo sem remédio na farmácia,

as doenças da infância, a cicatriz.

topo

 

 

 

 

Elegia Nº 10

 

 

 

Insone e inquieta na pequena cama,

na longa noite, Luciana chora,

e à  mamãe tão distante chama, chama,

como se ela pudesse ouvi-la agora.

 

Não quer o pai, não quer também sua ama:

s´´o a mãe que a deixou e foi embora.

No seu choro sem fim, pede e reclama

a canção de dormir que ouvia outrora.

 

Mas, aos poucos, na noite, vejo-a calma.

Para alguém seus braços se levantam.

Junto do berço, maternal, tua alma

 

canta a canção de doces estribilhos

que as mães, mesmo depois de mortas cantam,

para embalar seus pequeninos filhos.

 

topo

 

 

 

O Galo e o Cata-Vento

 

 

 

Pousa no topo da haste como peça

branca do cata-vento, na cumeeira

da casa.  O cata-vento gira, e o galo

mudo,  esculpido em folha,  só,  no aéreo

 

poleiro,  também gira, gira, gira.

Ventos catados pelo cata-vento

tentam levá-lo. O galo, todavia,

não vai.  (Come as rações de ventania).

 

Permanece trepado no mirante.

Estica, às vezes, o pescoço de aço

- para onde?  cego e preso, pelo espaço

 

o que procura?  Espreita a madrugada

em que lhe possam rebentar o canto

e o vôo metalúrgico das asas.

topo

Brasil Voltar para Poetas do Brasil

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1