A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

MÁRIO QUINTANA

Biografia

 

1906-1994

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Mário Quintana, poeta gaúcho nasceu em 1906 e faleceu em 1994. Da sua obra há a destacar o seu primeiro livro Rua dos Cataventos e Espelho Mágico, Quintanares, Baú de Espantos e Preparativos de Viagem .

 

Poesias Eternas

 Os Degraus

De Gramática e de Linguagem

O Mapa

Música

Poeminha do Contra

A Rua dos Cataventos

A Verdadeira Arte de Viajar

 

 

 

 

 

 

 

 

 




De Gramática e de Linguagem

E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas. As cousas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.

As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...

 

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Os Degraus

Não desças os degraus dos sonhos

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por tràs de suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco esse nosso mundo...

 

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Poeminha do Contra

 

Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!

 

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Música

 

O que mais me comove em música

São estas notas soltas

- pobres notas únicas - 

Que do teclado arranca o afinador de pianos.

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A Rua dos Cataventos

 

Da vez primeira em que me assassinaram,

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.

Depois, a cada vez que me mataram,

Foram levando qualquer coisa minha.

 

 

Hoje, dos meu cadáveres eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada.

Arde um toco de Vela amarelada,

Como único bem que me ficou.

 

 

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!

Pois dessa mão avaramente adunca

Não haverão de arracar a luz sagrada!

 

 

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!

Que a luz trêmula e triste como um ai,

A luz de um morto não se apaga nunca!

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A Verdadeira Arte de Viajar

 

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

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A cor do invisível

 

 

 

 

O Mapa

 

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse

A anatomia de um corpo...

 

 

(E nem que fosse o meu corpo!)

 

 

Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei...

 

 

Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)

 

 

 

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso

 

 

 

Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)

 

 

 

E talvez de meu repouso...

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