MÁRIO DE ANDRADE
Biografia 1893-1945 Mário Raul de Morais Andrade, o chamado "papa do Modernismo", nasceu em São Paulo, em 9 de outubro de 1893. Faleceu em 25 de fevereiro de 1945. |
Poesias Eternas
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Eu insulto o burguês!
O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita
de São Paulo!
O homem-curva! o
homem-nádegas!
O homem que sendo
francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso
pouco-a-pouco!
Eu insulto as
aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões!
os condes Joões! os duque zurros!
que vivem dentro de
muros sem pulos;
e gemem sangues de
alguns milréis fracos
para dizerem que as
filhas da senhora falam francês
e tocam o "Printemps"
com as unhas!
Eu insulto o burguês
funesto!
O indigesto feijão
com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam
os amanhãs!
Olha a vida dos nossos
setembros!
Fará sol? Choverá?
Arlequinal!
Mas á chuva dos
rosais
o êxtase fará sempre
Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades
cerebrais!
Morte ao burguês
mensal!
Ao burguês cinema! ao
burguês tílburi!
Padaria Suiça! Morte
viva ao Adriano!
" — Ai, filha,
que te darei pelos teus anos?
— Um colar... —
Conto e quinhentos!!!
Mas nós morreremos de
fome!"
Come! Come-te a ti
mesmo, oh! gelatina plasma!
Oh! purée de batatas
morais
Oh! cabelos nas
ventas! oh! carecas!
Ódio aos
temperamentos regulares!
Ódio aos relógios
musculares! Morte e infâmia!
Ódio à soma! Ódio
aos secos e molhados
Ódio aos sem
desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as
mesmices convencionais!
De mãos nas costas!
Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira
posição! Marcha!
Todos para a Central
do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio
e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de
giôlhos,
chorando religião e
que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio
fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem
perdão!
Fora! Fu! Fora o bom
burguês!...
in,
antologia Canto Melhor, Rio de Janeiro, 1969
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.