JOÃO
GUIMARÃES ROSA
Biografia 1908-1967 |
Poesias Eternas
|
No parque morno, um
perfumista oculto
ordenha heliotrópios...
Deixa aberta a
janela...
Minhas mãos sabem de
cor o teu corpo,
e a alcova é morna...
Apaguemos a luz...
Não sentes na tua
boca
um gosto de
papoulas?...
Passa o lenço de sede
de tuas mãos
sobre minha fronte,
e não me digas nada:
a febre está,
baixinho, ao meu ouvido,
falando de ti....
Na almofada branca,
as sandálias sonham
com a seda dos teus pés...
Partiste..
Mas a alegria ainda
ficou no quarto,
talvez no ninho morno,
calcado por teu corpo
no leito desfeito...
Entardece...
Esfuziante e verde,
um beija-flor entrou
pela janela,
( pensei que a tua
boca ainda estivesse aqui...)
Do frasco aberto,
vestidas de vespas,
voam violetas...
E na almofada de seda,
beijo as sandálias
brancas.
vazias dos teus pés.
In
Magma, Editora Nova Fronteira, 1997
Imensidão
Cheiro salgado
de um cavalo suado
Quem galopa no mar
?...
Romance - I
No cinzeiro cheio
de cigarros fumados
os restos de uma
carta...
Egoísmo
Se fosse só eu
a chorar de amor,
sorriria...
Mundo pequeno
O albatroz prepara
breve passeio
de Pólo a Pólo...
Romance - II
Bem na frente
de um retrato
empoeirado,
uma aliança
esquecida...
Infinito
Ó múmia longa,
ante os teus séculos,
eu durmo ainda...
Evocação
Lagosta púrpura
uma galera a remos
conduzindo um César...
Turismo sentimental
Viajei toda a Ásia
ao alisar o dorso
da minha gata angorá...
Turbulência
O vento experimenta
o que irá fazer
com sua liberdade...
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.