Emiliano Perneta
Biografia 1866-1921 Emiliano Perneta é considerado o maior poeta simbolista paranaense. Nasceu
a 03 de janeiro de 1866, em um sítio, em Pinhais, na zona rural da cidade de
Curitiba. O apelido "perneta" vem de seu pai, Francisco David
Antunes, que tinha um jeito típico de andar. Depois de completar o ginásio
no Instituto Paranaense, o poeta segue para São Paulo, para cursar a
Faculdade de Direito. Estava com 19 anos. A "república" onde
passou a morar era ponto de encontro da juventude boêmia, famosa pelas
extravagâncias, escândalos, audácia e donjuanismo. Nesta época, o quarto
do poeta foi apelidado de "Autocracia da Anarquia". Foi então que
aderiu aos ideais da abolição e da República, publicando textos políticos
e literários. Em meio a estes acontecimentos, Emiliano Perneta perde a mãe.
Para ela, Cristina Maria dos Santos, de quem dizia "como era bela e como
foram lindos e alegres os seus vinte e poucos anos!", escreveu o
seguinte epitáfio, em 1886 : "Aqui debaixo desta fria lousa, Aqui, ó
mãe junto do teu, O meu coração repousa, Mudo, gelado, como quem
morreu." Continuando nos ideais de liberdade, passa a fazer palestras
republicanas, publica artigos políticos e literários, assim como passa a
incentivar, em Curitiba, a leitura do escritor Baudelaire, fato marcante para
o surgimento do Simbolismo no Brasil. Também fundou várias revistas e
colaborou com seus textos para várias outras, além de jornais. Em 15 de
novembro de 1889, formou-se em Direito e, escolhido para ser o orador da
turma, fez um discurso inflamado em defesa da República, sem saber que ela
havia sido proclamada horas antes no Rio de Janeiro. Emiliano Perneta
continuou publicando artigos e textos literários em vários periódicos e
participando de inúmeras entidades cívicas e intelectuais. Também chegou a
ocupar muitos postos em empresas públicas e privadas. Pelo seu dinamismo e
obras, foi homenageado por diversos contemporâneos, entre eles, Nestor
Victor, Lima Barreto, Andrade Muricy. Tais homenagens aconteceram em vida e
também após a sua morte, ocorrida no dia 21 de janeiro de 1921, na Pensão
de Otto Kröhne, na Rua XV de Novembro, 84. O Simbolismo no Paraná
Quando Emiliano Perneta retornou ao Paraná, encontrou um grupo bastante
expressivo de literatos e intelectuais. A Revista Azul, Club Curitibano e,
principalmente, O Cenáculo foram as publicações que difundiram os ideais
filosóficos, ocultistas, esotéricos e espiritualistas do decadismo e do
Simbolismo no Paraná. |
Poesias Eternas |
DAMAS Ânsia de te querer que já não tem mais fim, Meu espírito vai, meu coração caminha, Como uma estrela, como um sol, como um clarim, Mas tudo em vão, sei eu! Tu és uma rainha! ... És a constelação maravilhosa, a minha Aspiração, de luz magnífica, ai de mim! A nudez, o clarão, a formosura, a linha, O espelho ideal! Ó Torre de Marfim! Nunca me hás de querer, batendo-me por ti, Pomo duma discórdia infrutífera, beijo Todo em fogo, e a arder, assim como um rubi... Mas é por isso que eu, ó desesperação, Amo-te com furor, com ódio te desejo, E mordo-te, Ideal, e adoro-te, Ilusão! (Emiliano Perneta)
DOR Ao Andrade Muricy Noite. O céu, como um peixe, o turbilhão desova De estrelas e fulgir. Desponta a lua nova. Um silêncio espectral, um silêncio profundo Dentro de uma mortalha imensa envolve o mundo Humilde, no meu canto, ao pé dessa janela, Pensava, oh! Solidão, como tu eras bela, Quando do seio nu, do aveludado seio Da noite, que baixou, a Dor sombria veio. Toda de preto. Traz uma mantilha rica; E por onde ela passa, o ar se purifica. De invisível caçoila o incenso trescala, E o fumo sobe, ondeia, invade toda a sala. Ao vê-la aparecer, tudo se transfigura, Como que resplandece a própria noite escura. É a claridade em flor da lua, quando nasce, São horas de sofrer. Que a dor me despedace. Que se feche em redor todo o vasto horizonte, E eu ponha a mão no rosto, e curve triste a fonte. Que ela me leve, sem que eu saiba onde me leva, Que me cubra de horror, e me vista de treva. (Emiliano Perneta)
HÉRCULES Homem, acorda! O sol, como um fruto de Outubro, Acaba de explodir no seio de uma flor. Mais alacre, porém, mais ardente e mais rubro, Com toques de clarim, com rufos de tambor... Tudo acordou, a abelha, o plátano e a rosa, A folha, a brisa, o lago azul, a estremecer. Ao fogo dessa boca, ideal, voluptuosa, Como se a terra fosse, ó sol, uma mulher... Nos espelhos do mar, de grande voz sonora, Nesta manhã sutil e de um louro saxão, As naus, que vão partir por esse mundo fora, Miram vaidosamente as caudas de pavão... Homem, levanta e vem para a campanha rude, Ergue-te para a luz, ergue-te para o bem, Tu que inda sentes n'alma o ardor da juventude, A sede desse azul, a fome desse além... Homem, levanta! Esquece a perfídia medonha, O desígnio feroz de Juno, quanto quis No teu sangue inocente a baba e a peçonha, Um dia inocular, de monstros e reptis... Homem forte, homem são, homem rude e diverso Dos outros, vem mostrar que tu tens ideais; Vem carregar aqui o peso do Universo Sobre esses ombros nus, rijos e colossais... (Emiliano Perneta)
ORAÇÃO DA MANHÃ Amanheceu. A luz de um claro e puro brilho Tem a frescura ideal de uma roseira em flor : Antes de tudo o mais, ajoelha-te, meu filho, Ajoelha-te e bendize a obra do Criador. Ajoelha-te aqui, e sorvendo esse aroma De feno, e rosa, e musgo, e bálsamo sutil, Que vem do seio azul dessa manhã, que assoma, Na radiosa nitidez de uma manhã de Abril, Bendize a força, a graça, a seiva, a juventude, A hercúlea robustez daqueles pinheirais, Que resistem, de pé, dentro da casca rude, Aos mugidos do vento e aos rijos temporais. Ama essa terra como um fauno que por entre A silva agreste vive; ama tudo o que vês; Todos somos irmãos, filhos do mesmo ventre, Filhos do mesmo amor e da mesma embriaguez. Abraça os troncos nus, beija esses ramos de ouro, Ajoelha-te aos pés dos que te querem bem : Que riqueza, Senhor, que límpido tesouro! Que grande coração que o arvoredo tem! Pede a Deus que conhece os bons e maus caminhos Que conhece o passado e conhece o porvir, Que te aponte de longe os cardos e os espinhos, E que te estenda a mão, quando fores cair... (Emiliano Perneta)
PARA UM CORAÇÃO Um dia, vi-te, assim, bailando, E a uma pergunta, que te fiz, Tu respondeste : "Eu amo, e quando, E quando eu amo, eu sou feliz!" Por uma noite perfumada, Cantaste, sobre o teu balcão. E eu disse, ouvindo a áurea balada : - Ah! Que feliz é o coração! Quanta felicidade, quanta, Não há ninguém feliz assim : Um dia baila e noutro canta, Como se fosse um arlequim... Eu disse .. Mas agora vejo, Nesse silêncio tumular, Que estás sofrendo, e o teu desejo Já não é mais o de bailar... Nem de bailar, e nem, de certo De nada mais, de nada mais... Que fazes, pois, triste deserto, Que fazes pois, que não te vais? Mas, choras, creio, choras? Onde? Se viu chorar um Lucifer? Pobre diabo, vamos, esconde Essas fraquezas de mulher... (Emiliano Perneta)
SETEMBRO Eu ontem vi chegar, quase que à noitezinha, Apressada e sutil, a primeira andorinha... É a primavera, pois, em flor, que se anuncia, É setembro que vem, bêbedo de ambrosia. Mãos doiradas, a rir, mãos leves e radiosas, Semeando à luz e ao vento as papoulas e as rosas... Como foi para nós de um esquisito gozo, Ó minha alma! esse doce, esse breve repouso, Que entre o nosso viver tumultuário e incerto Surgiu como se fosse o oásis do deserto...
"A chegada da primavera,
o despertar da natureza,
anunciam um período de transformações externas e interiores.
A ânsia por mudanças é forte em Emiliano.
As estrofes de dois versos, chamados dísticos,
estão escritas em alexandrinos (versos de 12 sílabas),
e as rimas em seqüência imediata (aos pares) são rimas paralelas." (Emiliano Perneta)
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.