A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

CASIMIRO DE ABREU

Biografia

1839-1860

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Casimiro de Abreu

 Casimiro José Marques de Abreu nasceu em uma fazenda fluminense situada na Barra de São João(Estado do Rio), no ano de 1839 e morreu tuberculoso em Nova Friburgo (Estado do Rio), em 1860, um ano após a publicação de seu livro de poemas: Primaveras. Casimiro de Abreu teve uma infância alegre e apresentava saudosismo dessa época, pois seu período adolescente foi muito conturbado e foi quando pela primeira vez sentiu uma inconsolável nostalgia no lar. Contrariado por seu pai em tudo, desde o desejo de se dedicar a poesia, chegou a tirar em Nova Friburgo (Instituto Freese) parte do curso de Humanidades, mas antes mesmo de concluir os estudos básicos, foi mandado pelo pai (um comerciante português de espírito dogmático) para o Rio de Janeiro, com o intuito de se fazer a iniciação nas práticas comerciais e um ano depois concluí-la em Lisboa-Portugal. O poeta que tinha até uma necessidade quase mórbida de carinho familiar foi obrigado a viver alguns anos recluso em Portugal, distante do apoio familiar, o que gerou melancolia, tristeza, saudade e desejo de morte.
No país lusitano, conseguiu se destacar graças as relações literárias, e gradativamente atingia seus interesses e desenvolvia seu talento de escrita, o que propiciou dois anos mais tarde a iniciação na carreira literária como escritor, os primeiros poemas e ensaios de ficção publicados numa escala periódica de importância são (O Panorama, ilustração luso-brasileira, O Progresso) : "Suspiros", "Lembras-te", "Desejos", "Elisa", "A Rosa", "A Amizade", "Os meus Sonhos" (poemas entre 1854 e 1957), Camila e Carolina (romances curtos 1856). E ainda produziu neste mesmo ano a peça teatral Camões e Jau (cena dramática, em um ato, apresentada em um teatro de Lisboa). Mesmo com essas produções literárias os anos em Lisboa serviram acima de tudo para a elaboração de um conjunto de poemas, chamado Canções do Exílio, os quais celebrizavam. Nesses poemas dele é visível a influência de Almeida Garret, pois eles foram escritos em Portugal no período em que ele esteve lá. Os aspectos contidos nas principais obras do poeta são marcantes, pois foram determinadas num astral baixo, decorrente de  uma vida mórbida e agravada devido à ausência da família o que gerou as grandes inspirações em defesa da pátria, as seguidas lembranças da infância idealizada e a presença de uma suave e comovedora tristeza. A obra também é impregnada de lirismo amoroso, ocasionando uma enorme oscilação entre sentimentalismos e impulsos eróticos, o que traduziu na dicotomia "amor e medo" demostrando a fragilidade adolescente do autor.
Casimiro voltou ao Brasil em 1857, e seguiu para o Rio, onde é novamente colocado no comércio. Porém sua vida na corte não é só de trabalho, ele se anima com festas e bailes. O poeta também encontra tempo para se encontrar com intelectuais da época e contribui com "A mamota", "O espelho", Revista Popular e Jornal Correio Mercantil, de Francisco Otaviano, é o jornal em que trabalhavam duas pessoas brilhantes: Manoel Antonio de Almeida e Machado de Assis, este último porta a mesma idade de Casimiro, era seu companheiro na roda literária que se reunia no escritório do advogado e poeta Caetano Filgueiras. Caetano proporcionava aos jovens um diálogo que estimulava vocações.
Em 1900, Machado de Assis, já consagrado escreveu sobre o grupo: "Todos se foram para a morte, ainda na flor da idade, e exceto o nome de Casimiro de Abreu foi lembrado."
Uma dúvida fica sobre Casimiro: Quem teria sido a sua musa inspiradora? Teria ele vivido apaixonado por uma mulher de estampa ideal?
A única coisa que se sabe é que Casimiro já era noivo de Joaquina Alvarenga Silva Peixoto.
Alguns meses depois da morte de seu pai, Casimiro, aos 21 anos de idade, é vítima de uma tuberculose galopante, no dia 18 de outubro de 1860.

Poesias Eternas

Meus Oito Anos

A Juriti

Amor e Medo

 

 


 
             
                 
      




 

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor,
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus - 
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
..........................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! 
  

                        (Casimiro de Abreu)

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A JURITI

Na minha terra, no bulir do mato, 

A juriti suspira; 

E como o arrulho dos gentis amores, 

São os meus cantos de secretas dores 

No chorar da lira. 


De tarde a pomba vem gemer sentida 

À beira do caminho; 

- Talvez perdida na floresta ingente 

A triste geme nessa voz plangente 

Saudades do seu ninho. 

Sou como a pomba, e como as vozes dela 

É triste o meu cantar; 

- Flor dos trópicos - cá na Europa fria 

Eu definho, chorando noite e dia 

Saudades do meu lar. 


A juriti suspira sobre as folhas secas 

Seu canto de saudade; 

Hino de angústia, férvido lamento, 

Um poema de amor e sentimento, 

Um grito de orfandade! 


Depois... o caçador chega cantando, 

À pomba faz o tiro... 

A bala acerta, e ela cai de bruços, 

E a voz lhe morre nos gentis soluços, 

No final suspiro. 


E como o caçador, a morte em breve 

Levar-me-á consigo; 

E descuidado, no sorrir da vida, 

Irei sozinho, a voz desfalecida, 

Dormir no meu jazigo. 


E - morta a pomba nunca mais suspira 

À beira do caminho; - 

E, como a juriti, longe dos lares, 

Nunca mais chorarei nos meus cantares 

Saudades do meu ninho! 



(Escrito em Portugal, onde o poeta permaneceu 4 anos)
  

                        (Casimiro de Abreu)

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Amor e Medo

 

Quando eu te vejo e me desvio cauto

Da luz de fogo que te cerca, ó bela,

Contigo dizes, suspirando amores:

— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

 

 

Como te enganas! meu amor, é chama

Que se alimenta no voraz segredo,

E se te fujo é que te adoro louco...

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

 

 

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,

Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.

Das folhas secas, do chorar das fontes,

Das horas longas a correr velozes.

 

 

O véu da noite me atormenta em dores

A luz da aurora me enternece os seios,

E ao vento fresco do cair cias tardes,

Eu me estremece de cruéis receios.

 

 

É que esse vento que na várzea — ao longe,

Do colmo o fumo caprichoso ondeia,

Soprando um dia tornaria incêndio

A chama viva que teu riso ateia!

 

 

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,

Cedendo ao raio que a tormenta envia:

Diz: — que seria da plantinha humilde,

Que à sombra dela tão feliz crescia?

 

 

A labareda que se enrosca ao tronco

Torrara a planta qual queimara o galho

E a pobre nunca reviver pudera.

Chovesse embora paternal orvalho!

 

 

Ai! se te visse no calor da sesta,

A mão tremente no calor das tuas,

Amarrotado o teu vestido branco,

Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

 

 

Ai! se eu te visse, Madalena pura,

Sobre o veludo reclinada a meio,

Olhos cerrados na volúpia doce,

Os braços frouxos — palpitante o seio!...

 

 

Ai! se eu te visse em languidez sublime,

Na face as rosas virginais do pejo,

Trêmula a fala, a protestar baixinho...

Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

 

 

Diz: — que seria da pureza de anjo,

Das vestes alvas, do candor das asas?

Tu te queimaras, a pisar descalça,

Criança louca — sobre um chão de brasas!

 

 

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!

Ébrio e sedento na fugaz vertigem,

Vil, machucara com meu dedo impuro

As pobres flores da grinalda virgem!

 

 

Vampiro infame, eu sorveria em beijos

Toda a inocência que teu lábio encerra,

E tu serias no lascivo abraço,

Anjo enlodado nos pauis da terra.

 

 

Depois... desperta no febril delírio,

— Olhos pisados — como um vão lamento,

Tu perguntaras: que é da minha coroa?...

Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

 

 

Oh! não me chames coração de gelo!

Bem vês: traí-me no fatal segredo.

Se de ti fujo é que te adoro e muito!

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

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