CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Biografia 1902-1987 1902 - Nasce em Itabira do Mato Dentro, Estado de Minas Gerais; nono filho de Carlos de Paula Andrade, fazendeiro, e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade. 1910 - Inicia o curso primário no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito. em Belo Horizonte, onde conhece Gustavo Capanema e Afonso Arinos de Melo Franco. 1916 - Aluno interno no Colégio Arnaldo, da Congregação do Verbo Divino, Belo Horizonte. 1917 - Toma aulas particulares com o professor Emílio Magalhães, em Itabira. 1918 - Aluno interno no Colégio Anchieta da Companhia de Jesus em Nova Friburgo; é laureado em "certames literários". Seu irmão Altivo publica, no único exemplar do jornalzinho Maio, seu poema em prosa "ONDA". 1919 - Expulso do Colégio Anchieta mesmo depois de ter sido obrigado a retratar-se. Justificativa da expulsão: "insubordinação mental" 1920 - Muda-se com a família para Belo Horizonte. 1921 - Publica seus primeiros trabalhos na seção "Sociais" do Diário de Minas. - Conhece Milton Campos, Abgar Renault, Emílio Moura, Alberto Campos, Mário Casassanta, João Alphonsus, Batista Santiago, Aníbal Machado, Pedro Nava, Gabriel Passos, Heitor de Sousa e João Pinheiro Filho, todos frqüentadores do Café Estrela e da Livraria Alves. 1922 - Ganha 50 mil réis de prêmio pelo conto "Joaquim do Telhado" no concurso Novela Mineira. - Publica trabalhos nas revistas Todos e Ilustração Brasileira. 1923 - Entra para a Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. 1924 - Escreve carta a Manuel Bandeira, manifestando-lhe sua admiração. - Conhece Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade no Grande Hotel de Belo Horizonte. Pouco tempo depois inicia a correspondência com Mário de Andrade, que durará até poucos dias antes da morte de Mário. 1925 - Casa-se com a senhorita Dolores Dutra de Morais, a primeira ou segunda mulher a trabalhar num emprego (como contadora numa fábrica de sapatos), em Belo Horizonte. - Funda, junto com Emílio Moura e Gregoriano Canedo, A Revista, órgão modernista do qual saem 3 números. - Conclui o curso de Farmácia mas não exerce a profissão, alegando querer "preservar a saúde dos outros". 1926 - Leciona Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira. - Volta para Belo Horizonte, por iniciativa de Alberto Campos, para rabalhar como redator-chefe do Diário de Minas. - Heitor Villa Lobos, sem conhecê-lo, compõe uma seresta sobre o poema "Cantiga de Viúvo". 1927 - Nasce, no dia 22 de março, mas vive apenas meia hora, seu filho Carlos Flávio. 1928 - Nasce, no dia 4 de março, sua filha Maria Julieta, quem se tornará sua grande companheira ao longo da vida. - Publica na Revista de Antropofagia de São Paulo, o poema "No meio do caminho", que se torna um dos maoires escândalos literários do Brasil. 39 anos depois publicará "Uma pedra no meio do caminho - Biografia de um poema", coletânea de críticas e matérias resultantes do poema ao longo dos anos. - Torna-se auxiliar de redação da Revista do Ensino da Secretaria de Educação. 1929 - Deixa o Diário de Minas para trabalhar no Minas gerais, órgão oficial do Estado, como auxiliar de redação e pouco depois, redator, sob a direção de Abílio Machado. 1930 - Publica seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em edição de 500 exemplares paga pelo autor, sob o selo imaginário "Edições Pindorama, criado por Eduardo Frieiro. - Auxiliar de Gabinete do Secretário de Interior Cristiano Machado; passa a oficial de gabinete quando seu amigo Gustavo Capanema substitui Cristiano Machado. 1931 - Falece seu pai, Carlos de Paula Andrade, aos 70 anos. 1933 - Redator de A Tribuna. - Acompanha Gustavo Capanema quando este é nomeado Interventor Federal em Minas Gerais. 1934 - Volta a ser redator dos jornais Minas Gerais, Estado de Minas e Diário da Tarde, simultaneamente. - Publica "Brejo das Almas" em edição de 200 exemplares, pela cooperativa Os Amigos do Livro. - Muda-se, com D. Dolores e Maria Julieta, para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, novo Ministro de Educação e Saúde Pública. 1935 - Responde pelo expediente da Diretoria-Geral e é membro da Comissão de Eficiência do Ministério da Educação. 1937 - Colabora na Revista Acadêmica, de Murilo Miranda. 1940 - Publica "Sentimento do Mundo" em tiragem de 150 exemplares, distribuídos entre os amigos. 1941 - Assina, sob o pseudônimo "O Observador Literário", a seção "Conversa Literária" da revista Euclides. - Colabora no suplemento literário de A Manhã, dirigido por Múcio Leão e mais tarde por Jorge Lacerda. 1942 - A Livraria José Olympio Editora publica "Poesias". O Editor José Olympio é o primeiro a se interessar pela obra do poeta. 1943 - Traduz e publica a obra Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac, sob o título de "Uma gota de veneno". 1944 - Publica "Confissões de Minas", por iniciativa de Álvaro Lins. 1945 - Publica "A Rosa do Povo" pela José Olympio e a novela "O Gerente". - Colabora no suplemento literário do Correio da Manhã e na Folha Carioca. - Deixa a chefia de gabinete de Capanema, sem nenhum atrito com este e, a convite de Luís Carlos Prestes, figura como editor do diário comunista, então fundado, Imprensa Popular, junto com Pedro Mota Lima, Álvaro Moreyra, Aydano Do Couto Ferraz e Dalcídio Jurandir. Meses depois se afasta do jornal por discordar da orientação do mesmo. - É chamado por Rodrigo M.F. de Andrade para trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde mais tarde se tornará chefe da Seção de Histôria, na Divisão de Estudos e Tombamento. 1946 - Recebe o Prêmio pelo Conjunto de Obra, da Sociedade Felipe d'Oliveira. - Sua filha Maria Julieta publica a novela "A Busca", pela José Olympio. 1947 - É publicada sua tradução de "Les liaisons dangereuses", de Choderlos De Laclos, sob o título de "As relaçães perigosas". 1948 - Publica "Poesia até agora". - Colabora em Política e Letras, de Odylo Costa, filho. - Falece sua mãe, Julieta Augusta Drummond de Andrade. Comparece ao enterro em Itabira que acontece ao mesmo tempo em que é executada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a obra "Poema de Itabira" de Heitor Villa-Lobos, composta sobre seu poema "Viagem na Família". 1949 - Volta a escrever no jornal Minas Gerais. - Sua filha Maria Julieta casa-se com o escritor e advogado argentino Manuel Graña Etcheverry e passa a residir em Buenos Aires, onde desempenhará, ao longo de 34 anos, um importante trabalho de divulgação da cultura brasileira. 1950 - Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu primeiro neto, Carlos Manuel. 1951 - Publica "Claro Enigma", "Contos de Aprendiz" e "A mesa". - É publicado em Madrid o livro "Poemas". 1952 - Publica "Passeios na Ilha" e "Viola de Bolso". 1953 - Exonera-se do cargo de redator do Minas Gerais, ao ser estabilizada sua situação de funcionário da DPHAN. - Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu neto Luis Mauricio, a quem dedica o poema "A Luis Mauricio infante". - É publicado em Buenos Aires o livro "Dos Poemas", com tradução de Manuel Graña Etcheverry, genro do poeta. 1954 - Publica "Fazendeiro do Ar & Poesia até agora". - Aparece sua tradução para "Les paysans", de Balzac. - Realiza na Rádio Ministério de Educação, em diálogo com Lya Cavalcanti, a série de palestras "Quase memórias". - Inicia no Correio da Manhã a série de crônicas "Imagens", mantida até 1969. 1955 - Publica "Viola de Bolso novamente encordoada". 1956 - Publica "50 Poemas escolhidos pelo autor". - Aparece sua tradução para "Albertine disparue", de Marcel Proust. 1957 - Publica "Fala, amendoeira" e "Ciclo". 1958 - Publica-se em Buenos Aires uma seleção de seus poemas na coleção "Poetas del siglo veinte". - É encenada e publicada a sua tradução de "Doña Rosita la soltera" de Federico García Lorca, pela qual recebe o Prêmio Padre Ventura, do Círculo Independente de Críticos Teatrais. 1960 - Nasce seu terceiro neto, Pedro Augusto, em Buenos Aires. - A Biblioteca Nacional publica a sua tradução de "Oiseaux-Mouches orthorynques du Brèsil" de Descourtilz. - Colabora em Mundo Ilustrado. 1961 - Colabora no programa Quadrante da Rádio Ministério da Educação, instituído por Murilo Miranda. - Falece seu irmão Altivo. 1962 - Publica "Lição de coisas", "Antologia Poética" e "A bolsa & a vida". - É demolida a casa da Rua Joaquim Nabuco 81, onde viveu 36 anos. Passsa a morar em apartamento. - São publicadas suas traduções de "L'Oiseau bleu" de Maurice Maeterlink e de "Les fouberies de Scapin", de Molière, esta última é encenada no Teatro Tablado do Rio de Janeiro. Recebe novamente o Prêmio Padre Ventura. - Se aposenta como Chefe de Seção da DPHAN, após 35 anos de serviço público, recebendo carta de louvor do Ministro da Educação, Oliveira Brito. 1963 - É lançada sua tradução de "Sult" (Fome) de Knut Hamsun. - Recebe os Prêmios Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritores, e Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Clube do Brasil, pelo livro "Lição de coisas". - Colabora no programa Vozes da Cidade, instituído por Murilo Miranda, na Rádio Roquete Pinto, e inicia o programa Cadeira de Balanço, na Rádio Ministério da Educação. - Viaja, com D. Dolores, a Buenos Aires durante as férias. 1964 - Publica a primeira edição da "Obra Completa", pela Aguilar. 1965 - São lançados os livros "Antologia Poética", em Portugal; "In the middle of the road", nos Estados Unidos; "Poesie", na Alemanha. - Publica, em colaboração com Manuel Bandeira, "Rio de Janeiro em prosa & verso". - Colabora em Pulso. 1966 - Publica "Cadeira de balanço", e na Suécia é lançado "Naten och rosen". 1967 - Publica "Versiprosa", "Mundo vasto mundo", com tradução de Manuel Graña Etcheverry, em Buenos Aires e publicação de "Fyzika strachu" em Praga. 1968 - Publica "Boitempo & A falta que ama". - Membro correspondente da Hispanic Society of America, Estados Unidos. 1969 - Deixa o Correio da Manhã e começa a escrever para o Jornal do Brasil. - Publica "Reunião (10 livros de poesia)". 1970 - Publica "Caminhos de João Brandão". 1971 - Publica "Seleta em prosa e verso". - Edição de "Poemas" em Cuba. 1972 - Viaja a Buenos Aires com D. Dolores para visitar a filha, Maria Julieta. - Publica "O poder ultrajovem". - Jornais do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre publicam suplementos comemorativos do 70º aniversário do poeta. 1973 - Publica "As impurezas do branco", "Menino Antigo - Boitempo II", "La bolsa y la vida", em Buenos Aires, e "Réunion", em Paris. 1974 - Recebe o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos Literários. - Membro honorário da American Association of Teachers of Spanish and Portuguese, Estados Unidos. 1975 - Publica "Amor, Amores". - Recebe o Prêmio Nacional Walmap de Literatura e recusa, por motivo de consciência, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal. 1977 - Publica "A visita", "Discurso de primavera e algumas sombras" e "Os dias lindos". - Grava 42 poemas em 2 long plays, lançados pela Polygram. - Edição búlgara de "UYBETBO BA CHETA" (Sentimento do Mundo). 1978 - Publica "70 historinhas" e "O marginal Clorindo Gato". - Edições argentinas de "Amar-amargo" e "El poder ultrajoven". 1979 - Publica "Poesia e Prosa", 5ª edição, revista e atualizada, pela editora Nova Aguilar. - Viaja a Buenos Aires por motivo de doença de sua filha Maria Julieta. - Publica "Esquecer para lembrar - Boitempo III". 1980 - Recebe os Prêmios Estácio de Sá, de jornalismo, e Morgado Mateus (Portugal), de poesia. Edição limitada de "A paixão medida". - Noite de autógrafos na Livraria José Olympio Editora para o lançamento conjunto da edição comercial de "A paixão medida" e "Um buquê de Alcachofras", de Maria Julieta Drummond de Andrade; o poeta e sua filha autografam juntos na casa de José Olympio. - Edição de "En rost at folket", Suécia. Edição de "The minus sign", Estados Unidos. - Edição de "Gedichten" Poemas, Holanda. 1981 - Publica "Contos Plausíveis" e "O pipoqueiro da esquina". Edição inglesa de "The minus sign". 1982 - Ano do 80º aniversário do poeta. São realizadas exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Os principais jornais do Brasil publicam suplementos comemorando a data. Recebe o título de Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Edição mexicana de "Poemas". A cidade do Rio de Janeiro festeja a data com cartazes de afeto ao poeta. - Publica "A lição do amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade", com notas do destinatário. - Publicação de "Carmina drummondiana", poemas de Drummond traduzidos ao latim popr Silva Bélkior. 1983 - Declina do troféu Juca Pato. Publica "Nova Reunião (19 livros de poesia)", último livro do poeta publicado, em vida, pela Casa José Olympio. 1984 - Despede-se da casa do velho amigo José Olympio e assina contrato com a Editora Record, que publica sua obra até hoje. - Também se despede do Jornal do Brasil, depois de 64 anos de trabalho jornalístico, com a crônica "Ciao". - Publica, pela Editora Record, "Boca de Luar" e "Corpo". 1985 - Publica "Amar se aprende amando", "O observador no escritório" (memórias), "História de dois amores" (livro infantil) e "Amor, sinal estranho". - Edição de "Frän oxen tid", Suécia. 1986 - Publica "Tempo, vida, poesia". Edição de "Travelling in the family", em New York, pela Random House. - Escreve 21 poemas para a edição do centenário de Manuel Bandeira, preparada pela editora Alumbramento, com o título "Bandeira, a vida inteira". - Sofre um infarto e é internado durante 12 dias. 31.I.1987 1987 - No 31 de janeiro escreve seu último poema, "Elegia a um tucano morto" que passa a integrar "Farewell", último livro organizado pelo poeta. - É homenageado pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, com o samba enredo "No reino das palavras", que vence o Carnaval 87. - No dia 5 de agosto, depois de 2 meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. "E assim vai-se indo a família Drummond de Andrade" - comenta o poeta. Seu estado de saúde piora. 12 dias depois falece o poeta, de problemas cardíacos e é enterrado no mesmo túmulo que a filha, no Cemitério São João Batista do Rio de Janeiro. - O poeta deixa obras inéditas: "O avesso das coisas" (aforismos), "Moça deitada na grama", "O amor natural" (poemas eróticos), "Viola de bolso III" (Poesia errante), hoje publicados pela Record; "Arte em exposição" (versos sobre obras de arte), "Farewell", além de crônicas, dedicatórias em verso coletadas pelo autor, correspondência e um texto para um espetáculo musical, ainda sem título. - Edições de "Moça deitada na grama", "O avesso das coisas" e re edição de "De notícias e não notícias faz-se a crônica" pela Editora Record. Edição de "Crônicas - 1930-1934". Edição de "Un chiaro enigma" e "Sentimento del mondo", Itália. - Publicação de "Mundo Grande y otros poemas", na série Los grandes poetas, em Buenos Aires. 1988 - Publicação de "Poesia Errante", livro de poemas inéditos, pela Record. 1989 - Publicação de "Auto-retrato e outras crônicas", edição organizada por Fernando Py. - Publicação de "Drummond: frente e verso", edição iconográfica, pela Alumbramento, e de "Álbum para Maria Julieta", edição limitada e facsimilar de caderno com originais manuscritos de vários autores e artístas, compilados pelo poeta para sua filha. - A Casa da Moeda homenageia o poeta emitindo uma nota de 50 cruzeiros com seu retrato, versos e uma autocaricatura. 1990 - O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) organiza uma exposição comemorativa dos 60 anos da publicação de "Alguma Poesia". - Palestras de Manuel Graña Etcheverry, "El erotismo en la poesía de Drummond" no CCBB e de Affonso Romano de Sant'Anna, "Drummond, um gauche no mundo". - Encenação teatral de "Mundo, vasto mundo", com Tônia Carrero o coral Garganta e Paulo Autran, sob a direccedil;ão deste no Teatro II do CCBB. - Encenação de "Crônica Viva", com adaptação de João Brandão e Pedro Drummond, no CCBB. - Edição da antologia "Itabira", em Madrid, pela editora Visor. - Edição limitada de "Arte em exposição", pela Salamandra. - Edição de "Poésie", pela editora Gallimard, França. 1991 - Publicação de "Obra Poética", pela editora Europa-América, em Portugal. 1992 - Edição de "O amor natural", de poemas eróticos, organizada pelo autor, com ilustrações de Milton Dacosta e projeto gráfico de Alexandre Dacosta e Pedro Drummond. - Publicação de "Tankar om ordet menneske", Noruega. - Edição de "Die liefde natuurlijk" (O amor natural) na Holanda. 1993 - Publicação de "O amor natural", em Portugal, pela editora Europa-América. - Prêmio Jabuti pelo melhor livro de poesia do ano, "O amor natural". 1994 - Publicação pela Editora Record de novas edições de "Discurso de primavera" e "Contos plausíveis". - No dia 2 de julho falece D. Dolores Morais Drummond de Andrade, viuva do poeta, aos 94 anos. 1995 - Encenação teatral de "No meio do caminho...", crônicas e poemas do poeta com roteiro e adaptação de João Brandão e Pedro Drummond. - Lançamento de um selo postal em homenagem ao poeta. - Drummond na era digital, publicação de uma pequena antologia em 5 idiomas sob o título de "Alguma Poesia". |
Poesias Eternas José - Poesia Sonora! Consolo na Praia - Poesia Sonora!
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A BOMBA
A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos
interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose,
de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continnua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro,
cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboriea a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos
de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger
velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação
em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba
o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba
(Carlos Drummond de Andrade)
COXAS BUNDAS COXAS
Coxas
bundas
lábios
cheiros
bundas
coxas
línguas
vulvas
coxas
bundas
unhas
céus
terrestres
infernais
no espaço ardente de uma hora
intervalada em muitos meses
de abstinência e depressão.
A BUNDA, QUE ENGRAÇADA
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.
Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão - a tua mão, nossas mãos -
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?
Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.
O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.
Biblioteca Verde
Papai, me compra a Biblioteca Internacional
de Obras Célebres
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança-
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.
Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não: inveja de mim mesmo.)
Ninguém mais aqui possui a colecção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passar a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluída transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas, Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vénus nua... Nossa
Senhora, tem disso tudo nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa. Não dorme este menino.
O irmão reclama: apaga a luz, cretino!
Espermacete1 cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que peque fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão fraquinho.
Mas leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar
de páginas?
Tudo o que sei é ela que me ensian.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.
1) espermacete: material de que se fazem as velas
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.