A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

AUTA DE SOUZA 

Biografia

1876 - 1901

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Do caráter simbolista da poesia de Auta de Souza pode-se duvidar; está, no entanto, ligada ao simbolismo, mais que a qualquer outro movimento literário, pelo espírito religioso. Otto Maria Carpeaux

A citação do Carpeaux é curiosa porque remete a temática de Auta de Souza a um movimento estético, o que é uma impropriedade. O fato é que entre o Simbolismo e o Neo-Romantismo pregava a poetisa, atribuindo-se-lhe coisas tais como "misticismo lírico" e "espiritualismo cristão" Embora Tristão de Atahyde fale em *poesia cristã refere-se com mais propriedade quando fala que poesia de Auta de Souza é simples, com "um sentimento de absoluta pureza"

Como naquela fase de transição, final do século XIX, Parnasianismo e Sim bolismo no Brasil ainda eram atropelados pela verve romântica tradicional de nossos escritores, é nessa linhagem que melhor se configura a poesia de Auta de Souza, acentuando ainda Tristão de Athayde que ela "fez versos para si e para aqueles que mais de perto a cercavam. Nunca sonhou com a glória literária" mas "no coração dos simples" "encontrou a mais terna repercussão. Auta de Souza tem vida breve, morta no dia 7 de fevereiro de 1901, atacada de tuberculose, a mesma doença de um irmão seu, o também poeta Henrique Castriciano, mas este superou o mal e viveu vida mais longa. Auta nasceu em Macaíba, RN, no dia 12 de setembro de 1876. A morte sempre a acompanhou de perto: perde cedo os pais e foi criada pela avó materna, e um irmão seu, de 12 anos, também morre.

Os estudos foram feitos no Recife, no Colégio de São Vicente de Paula, de religiosas francesas, o que a levou a dominar o francês e até chegar a escrever algumas poesias neste idioma. Mas a tuberculose estava à espreita, atacada ,foi em 1890, ano de sua volta com a avó para Macaíba. Em 1892, seu irmão Castriciano publica o primeiro livro de poemas, Iriações. "Dela nada se encontra nesse período", observa Raimundo de Menezes.

A atividade literária de Auta de Souza; a partir de 1893, quando passa a escrever intensamente e a participar de clubes literários e a colaborar em jornais e revistas de Natal Outra morte no seu caminho: o namorado. Reúne seus poemas, feitos entre 1893 e 1897 e lhes d o título provisório de Dálias. 0 livro vai acabar nas mãos de Olavo Bilac, que lhe faz o prefácio com o título de O horto - ficou apenas como Horto, quando editado em Natal em 1908. Oito meses depois morre Auta de Souza.

Poesias Eternas

 

Hoje

Noites Amadas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Noites Amadas

 

Ó noites claras de lua cheia!

Em vosso seio, noites chorosas,

Minh'alma canta como a sereia,

Vive cantando num mar de rosas;

 

Noites queridas que Deus prateia

Com a luz dos sonhos das nebulosas,

Ó noites claras de lua cheia,

Como eu vos amo, noites formosas!

 

Vós sois um rio de luz sagrada

Onde, sonhando, passa embalada

Minha esperança, de mágoas nua...

 

Ó noites claras de lua plena

Que encheis a terra de paz serena

Como eu vos amo, noites de lua!

 

Macaíba, agosto de 1898. Horto/1900

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Hoje

 

 

Fiz anos hoje... Quero ver agora

Se este sofrer que me atormenta tanto

Me não deixa lembrar a paz, o encanto,

A doce luz de meu viver de outr'ora.

Tão moça e mártir! Não conheço aurora,

Foge-me a vida no correr do pranto,

Bem como a nota de choroso canto

Que a noite leva pelo espaço em fora.

Minh'alma voa aos sonhos do passado,

Em busca sempre d'esse ninho amado

Onde pousava cheia de alegria.

Mas, de repente, num pavor de morte,

Sente cortar-lhe o vôo a mão da sorte...

Minha ventura só durou um dia.

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