A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

AUGUSTO DOS ANJOS

Biografia

1884-1914

Brasil Brasil

Poesias Eternas

Budismo Moderno

A Ideia

 Ilusão

Noivado

Psicologia de um Vencido

Versos Íntimos - Poesia Sonora!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ilusão

 

Dizes que sou feliz. Não mentes. Dizes

Tudo que sentes. A infelicidade

Parece às vezes com a felicidade

E os infelizes mostram ser felizes!

 

Assim, em Tebas --- a tumbal cidade,

A múmia de um herói do tempo de Ísis,

Ostenta ainda as mesmas cicatrizes

Que eternizaram sua heroicidade!

 

Quem vê o herói, inda com o braço altivo,

Diz que ele não morreu, diz que ele é vivo,

E, persuadido fica do que diz...

 

Bem como tu, que nessa crença infinda

Feliz me viste no passado, e ainda

Te persuades de que sou feliz!

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Noivado

 

 

Os namorados ternos suspiravam,

Quando há de ser o venturoso dia?!

Quando há de ser?! O noivo então dizia

E a noiva e ambos d'amores s'embriagavam.

 

E a mesma frase o noivo repetia;

Fora no campo pássaros trinavam.

Quando há de ser?! E os passaros falavam,

Há de chegar, a brisa respondia.

 

Vinha rompendo a aurora majestosa,

Dos rouxinóis ao sonoroso harpejo

E a luz do sol vibrava esplendorosa.

 

Chegara enfim o dia desejado,

Ambos unidos, soluçara um beijo,

Era o supremo beijo de noivado!

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Psicologia de um Vencido

 

 

 Eu, filho do carbono e do amoníaco,

 Monstro de escuridão e rutilância,

 Sofro, desde a epigênese da infância,

 A influência má dos signos do zodíaco.

 

 

 Profundissimamente hipocondríaco,

 Este ambiente me causa repugnância…

 Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

 Que escapa da boca de um cardíaco.

 

 

 Já o verme  este operário das ruínas

 Que o sangue podre das carnificinas

 Come, e à vida em geral declara guerra,

 

 

 Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

 E há de deixar-me apenas os cabelos,

 Na frialidade inorgânica da terra!

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A Idéia

 

De onde ela vem?! De que matéria bruta

 Vem essa luz que sobre as nebulosas

 Cai de incógnitas criptas misteriosas

 Como as estalactites duma gruta?!

 

 

 Vem da psicogenética e alta luta

 Do feixe de moléculas nervosas,

 Que, em desintegração maravilhosas,

 Delibera, e depois, quer e executa!

 

 

 Vem do encéfalo absconso que a constringe,

 Chega em seguida às cordas da laringe,

 Tísica, tênue, mínima, raquítica…

 

 

 Quebra a força centrípeda que a amarra,

 Mas, de repente, e quase morta, esbarra

 No molambo da língua paralítica!

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Budismo Moderno

 

Tome, Dr., esta tesoura, e… corte

 Minha singularíssima pessoa.

 Que importa a mim que a bicharia roa

 Todo o meu coração, depois da morte?!

 

 

 Ah! Um urubu pousou em minha sorte!

 Também, das diatomáceas da lagoa

 A criptógama cápsula se esbroa

 Ao contato de bronca destra forte!

  

 

Dissolva-se, portanto, minha vida,

 Igualmente a uma célula caída

 Na aberração de um óvulo infecundo;

 

 

 Mas o agregado abstrato das saudades

 Fique batendo nas perpétuas grades

 Do último verso que eu fizer no mundo!

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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