AUGUSTO
GIL
Biografia
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Poesias Eternas
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Numa carta em estilo
sorridente
(Mas sobre as linhas
da qual
Os meus olhos choraram
longamente)
Pus este aviso final:
Por notares que
manchei
Isso que em cima
ficou,
- Não vás supor que
chorei...
Foi água que se
entornou.
O
CANTO DA CIGARRA, LÍRICAS
PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 92
Quando as andorinhas partiam...
Boca talhada em
milagrosas linhas,
A luz aumenta com o
seu falar.
Esta manhã, um bando
de andorinhas
Ia-se embora,
atravessava o mar.
Chegou-lhes às
alturas, pela aragem,
Um adeus suave que ela
lhes dissera,
- E suspenderam todas
a viagem,
Julgando que voltara a
Primavera...
LUAR
DE AGOSTO, LÍRICAS
PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 93
Alma de humilde tem
asas,
De ambicioso, rasteja.
O incenso morre nas
brasas
E perfuma toda a
igreja...
Pedaços de espelho são
Espelhos do mesmo
modo...
Reparte o meu coração
E em cada parte irás
todo!
Porque fui dançar na
boda,
Em que foi que te
ofendi?
Andei sempre à roda,
à roda,
- Mas sempre à roda
de ti...
Não anda sem
companheira
O amor, a eterna criança...
Quando não é a
Cegueira,
É sempre a Desconfiança
O
CRAVEIRO NA JANELA, LÍRICAS
PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 96
Batem leve, levemente,
como quem chama por
mim.
Será chuva? Será
gente?
Gente não é,
certamente
e a chuva não bate
assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há
poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do
caminho...
Quem bate, assim,
levemente,
com tão estranha
leveza,
que mal se ouve, mal
se sente?
Não é chuva, nem é
gente,
nem é vento com
certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca
e fria...
– Há quanto tempo a
não via!
E que saudades, Deus
meu!
Olho-a através da
vidraça.
Pôs tudo da cor do
linho.
Passa gente e, quando
passa,
os passos imprime e
traça
na brancura do
caminho...
Fico olhando esses
sinais
da pobre gente que
avança,
e noto, por entre os
mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos,
doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem
definidos,
depois, em sulcos
compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é
pecador
sofra tormentos,
enfim!
Mas as crianças,
Senhor,
porque lhes dais tanta
dor?!...
Porque padecem
assim?!...
E uma infinita
tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em
mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.
Luar de Janeiro
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.