A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ARTUR DA TÁVOLA

Biografia

Poesias Eternas

A Garça

O Peixe

 

 

 

 

 

 

 

 A Garça

 

Irritante, egoísta e superior,

macérrima estafeta do sutil

exclamação arrogante e desafeta,

a garça indiferença é solidão.

 

 

O silêncio elegante e implacável

como o passo cauteloso de tísica.

Vaidosa, assexuada e impermeável

a garça geômetra é intolerante.

 

 

Curiosa, pragmática, pontual,

autista, longilínea, insuportável

em seu hierático olhar de rapina,

a garça não cogita, bica.

 

 

Estável, fléxil, sobeja pernalta,

álgido filete de brio, zen na meditação,

virgíneo clarão de um venábulo,

a garça é sina, seca e supina.

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 O Peixe

 

Cego e sagaz

tudo vê e nada sabe.

Mudo e falaz

é lâmina sem espada,

folha elegante de matéria

do abissal silêncio onde reina sem querer.

O peixe cumpre rituais

que desconhece.

Pecilotérmico,

é faca, escama, escuna

de peso levitado e fléxil.

Respiração sem ar.

 

O peixe escamoteia a inércia

e re-inaugura

a gratuidade do movimento

que o conduz à não direção

onde se esconde, copula,

e consome o invisível.

topo

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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