A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ANTÓNIO SARDINHA

Biografia

Poesias Eternas

No Deserto

Letreiro

Versos do Trinco da Porta

 

 

 

 

 

NO DESERTO

 

Chegaram os camelos junto ao poço,

Quando Rebeca tinha a urna cheia.

Foram momentos esses de alvoroço,

Bem raros de encontrar em terra alheia.

 

Também meu coração, menino moço,

Nos cardos do caminho se golpeia.

Ouço-te os passos, dentro de alma eu ouço

O eco dos teus passos sobre a areia.

 

Busquei-te no deserto longamente...

Como Rebeca outrora, condoída,

Surgiste, calma, na poeira ardente.

 

De ânfora baixa, à boca da cisterna,

Ficaste assim, para toda a tua vida,

Matando a minha sede, que é eterna!

 

 

CHUVA DA TARDE 

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LETREIRO

 

Tudo o que sou o sou por obra e graça

da comoção rural que está comigo.

Foi a virtude lírica da Raça

a herança que eu herdei do sangue antigo.

 

Foi esta voz que em minhas veias passa

e atrás da qual, maravilhado eu sigo.

Como um licor de encanto numa taça,

assim se quer esse condão comigo.

 

Olhai-me: - Eu vim de honrados lavradores.

De avós e netos, sempre os meus Maiores

fitaram o horizonte que hoje eu fito.

 

«O que estaria além da curva estreita?»

- E da pergunta, a cada instante Feita.

nasceu em mim a ânsia prò Infinito.

 

 

A EPOPEIA DA PLANÍCIE

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Versos do Trinco da Porta

 

Versos do trinco da porta,

- Louvado seja o Senhor!

A casa é Deus quem ma guarda,

Ninguém a guarda melhor!

 

Batem os pobres à porta,

- Batem com ar de humildade.

"Eu sei que é pouco irmãozinho!

É pouco, mas de vontade!"

 

Quem é que a porta abriria,

Com modos de atrevimento?

São coisas da criadagem!

Não foi ninguém, - é o vento!

 

Mexem no trinco da porta.

- "Levante, faça favor!"

A entrada nunca se nega

Seja a visita quem for!

 

Não vês a porta batendo?

Que aragem essa que corta!

Em toda a volta do dia,

Não pára o trinco da porta!

 

Trinco da porta caindo

Sobre a partida de alguém...

Oh, quantos vão e não voltam?!

São os que a morte lá tem!

 

QUANDO AS NASCENTES DESPERTAM, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 156

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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