A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA

Biografia

1923

Obras Principais:  O Avestruz Lírico, 1948; No Sossego da Hora, 1949; O Coração e a Espada, 1953; A Face Nua, 1954.

 

Poesias Eternas

Camilo Pessanha I

Camilo Pessanha II

Távola Redonda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Camilo Pessanha I

 

Um aroma subtil. Um lume. Um fumo leve.

Um delicado ritual.

O impulso breve que se descreve

Quase indiscreto, quase sensual.

 

A música interior apenas murmurada.

A luz difusa. Trémulas imagens.

Ondas de lua. Exílio. A flor despetalada.

Viagens.

 

Onde singra o navio sombreado de tédio?

Oscila. O servedouro de uma esteira.

A súbita emoção. O clarim do assédio

Desenrola a bandeira.

 

O ópio envolve o sonho num afago.

Já tudo tão distante! Tão inútil! Tão vago!

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Camilo Pessanha II

 

Em campa rasa, a tampa de granito

Afonta-o no brasão de fidalguia,

No nome (com Doutor e com d'Almeida) escrito

Com erros de ortografia.

 

Quem roubou as correntes que o cercavam de ferro?

(Quieto o coração, no temor das algemas.)

Quem poluiu e rasgou o lençol do desterro

Que lhe envolveu, no enterro, os ossos e os poemas?

 

Ei-lo, já não ali, liberto da prisão,

Por fim a deslizar (assim outrora o quis)

Sem ruído, a sumir-se como um verme, no chão

E vê treva em um país

Perdido de segredo e solidão.

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Távola Redonda

 

Poetas: vamos dar as mãos! De novo

Se escute em nós uma canção de ronda.

Poesia - única távola redonda

Com pão e vinho para todo o povo.

 

Quem tiver sede, beba deste vinho.

Quem tiver fome, coma deste pão.

Só o poeta vivo é nosso irmão;

P'ra ele, nada é fim, mas sim caminho.

Há flores no centro? Vou chamar-lhes fé.

Flori com elas vossa botoeira:

A voz do poeta é pura e verdadeira

Se - em Deus? se em si? Nos outros? - sonha e crê.

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 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

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