A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

António Gancho

Biografia

Poesias Eternas

Artéria, Tu Tens Razão

Sobre Uma Manhã Qualquer

 

 

 

 

 

 

 

Artéria, Tu Tens Razão

 

A única coisa que eu aprendi meu Deus

a sofrer a desilusão duma passagem de rua

ficar com o lado esquerdo a ajudar a falar

mas a única coisa que eu aprendi

Que um bocado de vidro inundasse de luz uma artéria

eu era um bocado de vidro que não inundasse de luz

artéria nenhuma

era uma desilusão a olhar para mim

e dizer movimento de rua

é assim movimento de rua

aí está nós cá estamos nós somos tal e qual

uma desilusão em passagem.

Tinha era ainda mais que tudo isso

um inchaço dum vidro em bocado

espetado em cima de pedra.

Havia um estendal de desilusão a devorar-me

todo com os olhos

eu era uma continuação do meu ser.

Onde um simulacro estava a vantagem

de uma desilusão.

Eu não

eu cá.

Que um cá estamos considerasse ou não

eu não tinha nada com isso

Eu fum, eu...

Ah,

Havia é que era eu cá estamos nada disso

eu cá não eu nada eu não tinha eu não tenho

tu quê

nós consideramos.

Onde punha fum

tudo por dentro era duma urania

tudo por dentro era duma constipação palpável

pelo sentido da pedra e do bocado de vidro.

Não eu cá não vou.

Quem olha descontenta.

 

 

O Ar da Manhã

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Sobre Uma Manhã Qualquer

 

Manhã de ouro lhe poderíamos chamar se de ouro fora a primeira manhã

Adão inconfessado, e nada saberemos da primeira manhã

se afinal de ouro se afinal de prata.

Ainda possível ter sido de estanho?

A primeira manhã assim imaginada estanho e a cena desenrolar-se-á

com maçãs de estanho, aves de estanho, rios de estanho...

Adão não seria de estanho?

Adão inconfessado, e nada se saberá da manhã original.

A primeira manhã, a primeira luz, a primeira vida, a primeira lua

Tu, querida, o desejarias saber, o sei,

era teu desejo saber de que metal fora a primeira manhã!

Evidentemente que (e aqui sente-se já um cansaço a obcecar a caneta)

evidentemente que dizia

etc., etc.

e a respeito da primeira manhã afinal

que não interessa sabê-lo.

Olha, morre como o cigano, o pior é ires à escola.

Ah, os poetas são decididamente afectados.

Que raio de ideia esta de saber da primeira manhã?

Londrina a de hoje, e basta para tomar um excelente duche quente

com a água a pôr fervura na pele

e mais nada.

Da primeira manhã. Adão que se faça poeta e no-lo diga que metal

 

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