A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ANTÓNIO ALEIXO

Biografia

António Aleixo nasceu em Vila Real de Santo António, no Algarve, em 1889 e faleceu tuberculoso em Loulé, em 1949.

António Aleixo não tinha qualquer formação académica, foi um auto-didacta, tendo ao longo da vida exercido diversas actividades nomeadamente tecelão, emigrante, pastor e cauteleiro.

Divulgava a sua poesia percorrendo as feiras, improvisando à guitarra e vendendo folhas avulso com as suas quadras inscritas. A sua obra foi, no início, essencialmente disseminada oralmente, sendo posteriormente compilada.

 

Obra:

Poesia
Este Livro que vos Deixo, 1969
Inéditos de António Aleixo, 1978
 

Sítios:

Algumas quadras
   
http://www.terravista.pt/ancora/2254/aleixo.htm

António Aleixo
   
http://alumni.dee.uc.pt/~cibsmile/index_aa.htm

António Aleixo - Jornal de Poesia
   
http://www.secrel.com.br/jpoesia/aleixo.html

Biografia
   
http://www.laurapoesias.com/poetas/antonio_aleixo_biog.htm

Biografia de António Aleixo
   
http://www.editorialnoticias.pt/biografias/aleixo.html

Em destaque
   
http://www.terravista.pt/ancora/2254/destaque.htm#Aleixo

Fundação António Aleixo -
   
http://www.fundacao-antonio-aleixo.pt/default.asp

 

Poesias Eternas

Quem me vê dirá: não presta...

 

 

 

 

 

 

 

 

(ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO... LISBOA-1970, 2ª EDIÇÃO)

 

 

Quem me vê dirá: não presta,

nem mesmo quando lhe fale,

porque ninguém traz na testa

o selo de quanto vale.

 

Não vás contar a ninguém

as histórias que não sabes;

nem assim entrarás bem

no lugar em que não cabes.

 

 

Deixam-me sempre confuso

as tuas palavras boas,

por não te ver fazer uso

dessa moral que apregoas.

 

 

São parvos, não rias deles,

deixa-os ser, que não são sós;

às vezes rimos daqueles

que valem mais do que nós.

 

Que importa perder a vida

em luta contra a traição,

se a Razão, mesmo vencida,

não deixa de ser Razão?

 

Inteligências há poucas.

Quase sempre as violências

nascem das cabeças ocas,

por medo às inteligências.

 

P'ra mentira ser segura

e atingir profundidade,

tem que trazer à mistura

qualquer coisa de verdade.

 

 

Para triunfar depressa,

cala contigo o que vejas

e finge que não te interessa

aquilo que mais desejas.

 

Ti, que tanto prometeste

enquanto nada podias,

hoje que podes - esqueceste

tudo quanto prometias...

 

Os que bons conselhos dão

às vezes fazem-me rir,

- por ver que eles próprios são

incapazes de os seguir.

 

Não sou esperto nem bruto

nem bem nem mal educado:

sou simplesmente o produto

do meio em que fui criado.

 

 

Os meus versos o que são?

Devem ser, se os não confundo,

pedaços do coração

que deixo cá neste mundo.

 

Porque o mundo me empurrou,

caí na lama, e então

tomei-lhe a cor, mas não sou

a lama que muitos são

 

Eu não tenho vistas largas,

nem grande sabedoria,

mas dão-me as horas amargas

lições de filosofia.

 

Co'o mundo pouco te importas

porque julgas ves direito.

Como há-de ver coisas tortas

quem só vê em seu proveito?

 

 

Descreio dos que me apontem

uma sociedade sã:

isto é hoje o que foi ontem

e o que há-de ser amanhã.

 

Vós que lá do vosso império

prometeis um mundo novo,

calai-vos que pode o povo

qu'rer um mundo novo a sério.

 

 

Há luta por mil doutrinas.

Se querem que o mundo ande

façam das mil pequeninas

uma só doutrina grande.

O meu mais puro sorriso

eu não o mostro a ninguém;

mas sei rir, quando preciso,

a quem me sorri também

 

Se o hábito faz o monge

e o mundo quer-se iludido,

que dirá quem vê de longe

um gatuno bem vestido?

 

 

Sei que pareço um ladrão...

mas há muitos que eu conheço

que, sem parecer o que são,

são aquilo que eu pareço.

 

Nas quadras que a gente vê,

quase sempre o mais bonito

está guardado p'ra quem lê

o que lá não 'stá escrito.

 

 

Meus versos que dizem eles

que façam mal a alguém?

Só se fazem mal àqueles

a quem podem ficar bem.

 

 

Julgando um dever cumprir,

sem descer no meu critério,

- digo verdades a rir

aos que me mentem a sério!

topo

 


 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1