A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

HENRIQUE ABRANCHES

Biografia

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Poesias Eternas

Ao Bater da Chuva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao Bater da Chuva

 

 

A porta fechada é uma obsessão.

As vozes caladas em torno de nós,

as pausas alongadas em silêncios de uma angústia

nova,

são a descontinuidade do tempo interrompido

dentro da casa que arrombaram ontem,

no coração da aldeia do Mazozo.

A chuva cai em bátegas doces, a chuva bate o capim

molhado,

e soa...

A humanidade é fria.

 

As mulheres já choraram tudo

- A Mãe Gonga comandou o coro.

Esvaem-se agora em surdina muda,

que agudiza o bater da chuva.

Os homens dizem de quando em quando

um nome obstinado.

 

Chamava-se Infeliz

aquele rapaz

que levaram ontem

do coração da aldeia.

 

A chuva matraqueia ainda e sempre

na porta fechada como uma obsessão.

Como ela nos lembra o som odiado

que dia após dia

nos sobressalta!

Como ela recorda o som da metralha,

que dia após dia

desce o morro da Calomboloca

e bate naquela porta fechada,

obsecada de protecção!

 

A gente conhece o som da metralha

quando ela vem no fim do dia.

Quando ela vem, silencia a aldeia,

então, em sobressalto, o povo diz:

- Foram fuzilados...

 

E ninguém sabe do Infeliz,

aquele rapaz que levaram ontem...

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